Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

E se um dia diminuissem a sua casa?

Também em termos ecológicos nos devíamos lembrar da máxima não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Da Utopia à Realidade


Conferência da Utopia à Realidade

Valdeci António Ferreira e as APAC
O HOMEM
Valdeci António Ferreira tem 47 anos e nasceu no estado de Minas Gerais, no Brasil É bacharel em Ciências Jurídicas pela Universidade de Itaúna e em Ciências Teológicas pela PUC (RJ). Fundador e actual assessor da APAC – Associação
de Protecção e Assistência aos Condenados, Itaúna, e Presidente da Direcção da Fraternidade Brasileira de Assistência
aos Condenados Começou a ser visitador com 21 anos na cadeia Pública de Itaúna. Esta experiência violenta marcou-o definitivamente. Tendo criado em 1984 a Pastoral Penitenciária de Itaúna Valdeci preocupou-se em encontrar uma metodologia capaz de inverter os índices assustadores de violência e de reincidência (84%) que existiam na cadeia de Itaúna. Teve assim conhecimento de uma experiência revolucionária que existia no Estado de S. Paulo, a APAC de São José dos Campos. Valdeci e outros visitadores da cadeia de Itaúna criaram a APAC de Itaúna e adaptaram o método
APAC à realidade da sua cidade, tendo conseguido construir um Centro de Reintegração Social. Em Outubro de 1995 dá-se uma revolta na Cadeia Pública de Itaúna que foi totalmente destruída. Foi necessário distribuir os reclusos por outras cadeias. A APAC de Itaúna foi uma das escolhidas e passou a ser a segunda experiência de recuperação de reclusos sem o recurso a guardas prisionais. Valdeci tornou-se o director da APAC de Itaúna e o grande impulsionador da instalação de APAC no Brasil e no Mundo
Algumasgumasgumasgumas frases dede Valdecidecideci
> Uma das necessidades vitais de todo o ser humano é amar e ser amado
> Todo o homem é maior do que o seu crime
> O voluntário é o amigo que chega depois de todos se terem ido embora
> Cada homem tem que encontrar o seu caminho para reparar o Mal que fez
> Cada um oferece o que tem e Deus completa o que falta
> Ninguém é irrecuperável, o que há são tratamentos inadequados


A OBRA
O que é uma APAC?
Uma APAC é um estabelecimento prisional onde não existem guardas prisionais, onde a maior parte do trabalho é feito por voluntários e reclusos, estando unicamente a parte administrativa entregue a profissionais. As APAC funcionam segundo
um método específico baseado em doze elementos e o seu êxito depende do rigor de aplicação destes elementos.
A aplicação do Método APAC visa a promoção da humanização das prisões, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena de prisão. Podem entrar para as APAC todos os presos condenados que estejam dispostos a cumprir as regras estabelecidas e a participar nas actividades programadas. Segundo Valdeci, é o tratamento baseado na confiança, no amor, na disciplina, na restituição da auto-estima que recupera o indivíduo. “E isso é o que a APAC propõe. Nas APAC, os reclusos (recuperandos) são chamados pelo nome. Deixam de ser um número frio, que não tem sentimento, não sonha, não chora”, O índice de reincidência nas APAC é cerca de 8% contra os 70% de média mundial e o custo de um preso internado numa APAC é cerca de um terço do custo de um recluso internado numa cadeia normal No Brasil existem cerca de 100 APAC e estão espalhadas por cerca de 20 países por exemplo, Equador, Argentina, Peru, nos EUA, etc.


Para saber mais sobre as APAC:
http://www.sic.pt/online/video/informacao/Aqui+e+Agora/2008/11/prisaosemguardas.htm
http://www.youtube.com/watch?v=KT1qDnrKSzc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=wCn7zVT_LUY&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=b09AbOYgYsY&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=mQ1Lm-u7F78&NR=1

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

a Gaivota

A Gaivota de Amália revisitada pelo projecto AMÁLIA HOJE

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse, nesse céu onde
o olhar é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

MEP "vai estar no Parlamento" na próxima legislatura, assegura Rui Marques



Notícia do Público : http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1399435&idCanal=12



Uma nova agenda social : artigo de opinião de Rui Marques no Expresso de 5/Setembro
http://www.facebook.com/note.php?note_id=130124429137&id=1347159941&ref=share

Um movimento em construção ...

Assumindo-se com vontade de entrar no sistema partidário, o MEP coloca no seu centro de acção o espírito de entrega ao serviço público e vem-se solidificando com a ideia de recliclar com frescura valores e princípios éticos que estão na base da essência da política. Tem sido esse espírito que tem permitido uma diversidade de opiniões, uma liberdade de expressão e um trabalho esforçado de criação de propostas, pensamentos, reflexões, ... (a mim coube-me colaborar na consolidação do Núcleo do Porto, no projecto Perfis de Exclusão, Propostas de Inclusão e ainda na Campanha para as Eleições Europeias tendo sido candidato pelo MEP)


Estamos a 21 dias da prova de fogo do MEP... Voltamos ao bloqueio mediático das televisões e alguma imprensa aos pequenos partidos, à tarefa hercúlea de chegar ao maior número de portugueses para que fiquem a conhecer as nossas propostas. Voltamos às nossas 'fisgas': o site, a distribuição de material gráfico nos carros e nas caixas de correio, o contacto directo com as pessoas, ... voltamos às mão sujas de pó, ao cansaço no final do dia....voltamos a esta certeza de que cada um dá o melhor de si mesmo que visto do exterior pareça pouco (como andar a distribuir revistas e flyers à hora do almoço pela Areosa, Porto ou no metro em Lisboa). O que nos dá uma liberdade interior para nos preocuparmos, não com o resultado do dia 27 mas com a superação de nós próprios a que chegaremos no final do dia 25...

Política: porque aderi ao MEP





Hoje apetece-me falar deste meu encontro com a política em geral e com o MEP- Movimento Esperança Portugal - em particular e por isso começo com um texto que escrevi em Março de 2008 após a reunião do MEP no Vimieiro, em que se tendo decidido avançar para partido político, o MEP começava a construção do seu programa com a apresentação de propostas - elaboradas pelo Núcleo do Porto - para o Eixo I Uma mesa com lugar para todos. Daí iniciou-se a árdua tarefa de juntar peo menos 7500 assinaturas (pouco mais de 3 meses depois, juntaram-se 10 mil). Para trás tinham ficado já sessões de apresentação com Rui Marques, tertúlias e debates sobre política... .

«Porque me juntei ao MEP?
1. Por entender a política, como um dever de cidadão preocupado em cuidar da polis (remonto aqui ao pensamento clássico ateniense em que os cidadãos, no espaço público, constituiam instituições que tinham o dever de deliberar e executar directrizes para a cidade). Nesse sentido, cada um de nós tem o dever de, enquanto cidadão consciente, de se tornar político sob pena de não participar nos processos de tomada de decisões que nos dizem respeito. Relembro Platão: a penalização por não nos tornarmos politicos é termos os imbecis a governar-nos.

2. Vivo mal nesta cultura do pessimismo, a ideia de viver o dia-a-dia sem expectativas de futuro, sem os amanhãs que cantam e que nos fazem projectar sonhos. Chocam-me as desgraças que todos os dias nos entram pela casa dentro sem nos dar tempo para pensar que talvez naquele momento um bébé tenha respirado pela 1ª vez rasgando, assim, horizontes. Não estou alheio à realidade, claro. Mas não quero só ficar indignado pelo que de mau acontece numa atitude de passividade. Quero-me comover no sentido de ganhar e fazer ganhar consciência para os problemas e de encontrar soluções para a resolução dos mesmos. Quero que as tormentas se tornem em BOA ESPERANÇA! Os portugueses já acreditaram que era possível...

3. Pela ideia de empatia como resposta apropriada à situação de outra pessoa relacionada à capacidade de compreender a perspectiva psicológica e afectiva do outro. Comungo da afirmação do diálogo como metodologia e das pontes como objectivo; do respeito pelo Outro; da cultura de negociação para vitórias comuns. Porque uma verdadeira construção só pode nascer por aquilo que nos une e nunca pelo que nos separa. E experimento com as cerca de 50 pessoas, que estão a fundar este movimento, a liberdade de pensamentos, opiniões para juntos construirmos uma sociedade mais responsável, mais justa e mais digna! Por um Portugal ainda melhor. »

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Partly Cloudy

Neste regresso de férias nada melhor do que relembrar as férias de verão de outros tempos e a poesia e magia dos desenhos animados que nos ensinam a tolerância


Partly Cloudy em:

http://videos.sapo.pt/v5urAwzZwmpy4QRvV5rf

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Rasgar (sugestão de leitura)

Há tanta coisa que é preciso rasgar, por Joaquim Pacheco Pereira in Abrupto

http://abrupto.blogspot.com/2009/07/rasgar-ha-tanta-coisa-que-e-preciso.html

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Campanha Europeia para um Rendimento Adequado



Durante o ano de 2009, a European Anti-Poverty Network desenvolve, a nível europeu, uma Campanha em favor de um rendimento mínimo adequado para que todos os cidadãos possam viver em dignidade. Desta campanha consta um Apelo em defesa de um rendimento mínimo adequado.

Caso pretenda apoiar esta iniciativa subscreva-o em



Para mais informações clique aqui

terça-feira, 12 de maio de 2009

um encontro amigo na escrita

Com a devida presunção e modéstia, não resisto a publicar uma crítica que uma boa amiga fez ao artigo que publico nos posts anteriores. Afinal, foi para estes encontros pelas letras que se fez e faz este blogue. Obrigado Joana

Olá amigo!!!

Tenho a dizer-te que estás na mais perfeita sintonia com o momento... isto da informação global e fácil tem a vantagem de colocar a maior parte das pessoas a pensar e a falar sobre o mesmo, ao mesmo tempo!! Uns falam nas esquinas dos cafés, enquanto fumam, dps de terem lindo qq coisa no jornal da região ou no correio da manhã :P; há os que participam em fóruns TSF, escrevem ou comentam blogs; outros participam em tertúlias privadas, and so on, and so on... mas há tb o amigo Rui, que agarra nos desafios que lhe lançam, pesquisa, investiga, colige e redige... gosto sempre de te ver a não voltares as costas aos locais por onde tens andado, mesmo q tenhas visto neles coisas q te desagradam profundamente. Lembro-me do teu momento Sta. Casa... admiro-te por conseguires reflectir e escrever sobre a entidade, elogiando os seus aspectos positivos, mas apresentando esse trabalho q te foi ‘encomendado’, dentro de um mural bem grande, carregado de pinceladas provocadoras e malandrecas.... isto é trabalho e criatividade meu amigo, mas é tb independência.... não deixes nunca a tua cauda de diabinho bondoso ficar enrolada e presa, numa qq curva do percurso seja lá de q Movimento for.... ;)

Olhares Convergentes - 1



Aqui fica na íntegra, o artigo escrito para a publicação Olhares Convergentes comemorativa dos 500 anos da Misericórdida de Penafiel.

O artigo tem três pontos: um primeiro sobre o contexto histórico em que surgem as Misericórdias, um segundo sobre o contexto actual no seu sector de actividade (Terceiro Sector ou Economia Social..) e as suas problemáticas e um terceiro em que se perspectivam alguns dos seus desafios futuros

Olhares Convergentes - 2

2. O contexto português do Terceiro Sector[1]

[são históricas as razões] «para o relativo sub-desenvolvimento do sector da sociedade civil em Portugal, as maiores das quais serão a presença de instituições paternalistas e os quarenta anos de governação ditatorial que suprimiram o movimento mutualista e a participação pública em geral».
RAQUEL FRANCO


Quando comparado com outros países da União Europeia, Portugal apresenta um sector da sociedade civil ‘fraco’. Contudo, constitui uma fatia maior da economia do que aquilo que é normalmente reconhecido. Num estudo da Universidade Católica (FRANCO, 2005: 11 e ss), constata-se que este sector é uma força económica significativa: em 2002, a despesa do sector representava 4,2% do Produto Interno Bruto, tendo ao seu serviço cerca de 250.000 trabalhadores (mais do que, por exemplo, o sector dos transportes), 70% dos quais remunerados e os restantes em regime de voluntariado. A mão-de-obra do sector representará cerca de 4% da população economicamente activa, apresentando-se inferior àquela que emprega noutros países da União Europeia. É ainda de assinalar que 60% da mão-de-obra do sector desempenha funções de serviços dos quais 48% está adstrita aos serviços sociais. Em termos de receitas, 48% dos fundos correspondem a receitas próprias, 40% a apoio público e os restantes 12% provém de filantropia.

A investigação, que citamos, aponta quatro vertentes de desenvolvimento para este sector:
1) Aumento do conhecimento do público sobre o sector. É limitada a compreensão das organizações da sociedade civil como um sector único e coeso. Esta quase ausência de consciência de “sector” limita a capacidade do próprio sector em promover a filantropia, atrair o apoio do público e assegurar políticas favoráveis ao seu futuro desenvolvimento. Um passo útil nessa direcção seria tornar explícitas as ligações entre os diferentes tipos de organizações que constituem o sector não lucrativo/economia social. Uma compreensão mais clara dos aspectos comuns entre estas organizações geraria um ambiente político mais favorável para o sector como um todo.
2) Fortalecimento do enquadramento legal. A reforma democrática introduzida após a revolução de 1974 criou um ambiente propício ao encorajamento do desenvolvimento da actividade associativa. Com a rápida expansão do sector da sociedade civil, produziu-se um corpo legal difuso e complexo[2] a governar a formação e actividade dos diferentes tipos de organizações, provocando confusão e uma dificuldade de compreensão do enquadramento legal, diminuindo o impacto do sector no país. Para fazer face a esta situação, Portugal poderia levar a cabo alguma consolidação da estrutura legal do sector da sociedade civil através da sistematização das formas legais que as organizações podem adoptar e de uma maior consistência no tratamento fiscal destas organizações e das doações ao sector. Estas medidas ajudariam a dar maior consistência ao sector, dar novas garantias aos doadores, a simplificar a aplicação das leis, e potencialmente a encorajar uma maior transparência e capacidade de prestar contas por parte das organizações.
3) Melhorar a capacidade da sociedade civil. Numa época de considerável dependência de subsídios estatais e de apoios da União Europeia, um número crescente de organizações da sociedade civil em Portugal está cada vez mais consciente da necessidade de profissionalizar a gestão das suas instituições de forma a garantir o melhor serviço possível aos seus beneficiários. Há necessidade de, à semelhança do que fizeram outros países, estabelecer programas de formação académica ou não académica para os gestores das organizações da sociedade civil (e esta questão cruza-se igualmente com a necessidade de formação e profissionalização do voluntariado, uma das forças principais destas organizações). Esses programas de capacity building poderiam potenciar a capacidade das organizações da sociedade civil, melhorando a sua gestão, e contribuindo assim para o alcance de importantes benefícios públicos. Ainda que em número reduzido, as organizações portuguesas que já iniciaram esse tipo de programas devem constituir-se como exemplo a seguir pelo sector.
4) Melhorar as relações Governo – Organizações Não Lucrativas. Actualmente, parece permanecer alguma ambiguidade acerca das funções que o Estado deveria confiar às organizações da sociedade civil com o apoio do Estado.[3] De forma semelhante, permanecem algumas incertezas da parte do sector da sociedade civil e do público em geral sobre a cooperação apropriada da sociedade civil com o Estado, e sobre a forma como preservar, no quadro dessa cooperação, algum grau de autonomia. Fundamentalmente, existe a necessidade de repensar de forma séria as actividades do Estado para se determinar quais deverão ser levadas a cabo de forma mais flexível e eficaz através de uma cooperação público-privada sem fins lucrativos em alternativa a uma acção isolada do Estado.

[1] Apesar de alguns autores distinguirem os conceitos de Terceiro Sector, Economia Social, Sector Não Lucrativo, usamos aqui indiscriminadamente os termos, querendo-nos referir às instituições da sociedade civil, de carácter não lucrativo e que prosseguem fins sociais, culturais e ambientais.
[2] Portugal tem pessoas colectivas de utilidade pública, Instituições Particulares de Solidariedade Social, pessoas colectivas de utilidade pública administrativa e organizações não governamentais de cooperação para o desenvolvimento que merecem tratamento especial do Estado. Ainda, o Código Civil inclui orientações gerais respeitantes às pessoas colectivas, fazendo referências específicas às associações e às fundações.
[3] Na actual legislatura foi patente tal ambiguidade na retirada de apoios estatais aos ATL’s e na recusa de adjudicação às Misericórdias de um programa de recuperação das listas de espera em Oftalmologia.

Olhares Convergentes - 3

3. Raízes no futuro: uma prática em construção

«(…) a demonstrar que a marca real do homem é o seu espírito de criatividade, na ciência ou na política no sonho ou na arte, na religião ou na técnica; que é pelo imaginar que somos à semelhança do criador padrão, quer o tomemos deus ou homem; e que é nosso primeiro dever quebrar tudo o que pode impedir, inclusive a grade dos andaimes sempre necessários para que o novo edifício se construa e erga»
AGOSTINHO DA SILVA

As organizações de serviços sociais, não lucrativas, absorvem cerca de 48% da força do trabalho do sector da sociedade civil (média de 20% para os países onde existem dados, 22% nos países desenvolvidos) assumindo uma proeminência em Portugal maior do que em qualquer outro país. Por outro lado, essas organizações desempenham, em Portugal, um papel importante ao nível dos serviços sociais possuindo uma rede de equipamentos e valências que não deve ser descurado. Por isso, às organizações de serviços sociais, não lucrativas e às Misericórdias em específico, deve ser reconhecido o extraordinário papel que podem desempenhar nos desafios de reforço da coesão social e do combate à exclusão.

Num desenvolvimento humano mais harmonioso, as Misericórdias podem (re)assumir um papel preponderante desde logo pelo reforço da atenção individualizada a cada um dos seus beneficiários num quadro de um apoio social aos mais carenciados. Outra lógica que podem recuperar da sua longa tradição é o assumirem o seu papel de elo de ligação entre o poder central e as necessidades locais das populações a que prestam apoio.

O seu carácter paternalista e assistencialista, muitas vezes criticado, pode ser reconfigurado com a conciliação do rigor da aplicação dos métodos da gestão económica com a produção de bens e serviços de âmbito social. A este nível refira se como um bom exemplo o facto de cerca de 18% das empresas de inserção terem tido como suporte base as Misericórdias /Mutualidade (PAIVA; 2006:68) o que demonstra bem o seu potencial inovador e criativo. Por outro lado, as Misericórdias possuem uma rede de equipamentos das mais diversificadas modalidades e valências que comprovam a actualidade da sua atenção e a consequente necessidade de diversificação dos serviços (e veja-se aqui o bom exemplo da Misericórdia de Penafiel que possui 3 Lares de Terceira Idade, Serviço de Apoio Domiciliário, Centro de Dia, Centro de Convívio, 2 Jardins de Infância e Creches, ATL, Gabinete do Rendimento Social de Inserção, Albergaria e Museu de Arte Sacra, notando-se neste último a vontade de privilegiar a cultura como outro factor de desenvolvimento humano) .

Assiste-se hoje a uma mudança de paradigma na assistência social sustentada por novos princípios: de eficácia social da inserção dos excluídos no mercado de trabalho e da luta contra a pobreza; de dimensão ecológico-ambiental com a noção de pertença a uma mesma Terra; de promoção da cidadania e da participação. Tais lógicas suportam a construção de um modelo que cruza os princípios de democracia, autonomia e liberdade subjacentes à solidariedade como lógica de inclusão.

Em todas as religiões e todas as crenças humanistas exige-se que cada um de nós assuma a responsabilidade pelo bem-estar de todos. A misericórdia é assim uma condição para uma verdadeira sintonia e harmonia das múltiplas identidades humanas. É também valor de uma ética que nos impele para o amor recíproco, para o entendimento mútuo, para que todos tenham um tratamento com dignidade e respeito. Essencial ao desenvolvimento humano, a prática da misericórdia deve ser, assim, algo a perpetuar no futuro.

Bibliografia:

FONSECA, Carlos Dinis, História e Actualidades das Misericórdias, Mem Martins, Editorial Inquérito, 1996,
393 pp

FRANCO, Raquel, (coord.), O Sector Não Lucrativo Português numa Perspectiva Comparada, Porto, Universidade Católica Portuguesa & Johns Hopkins University, 2005, 41 pp

PAIVA, Júlio, Pobreza, Exclusão, Desemprego e Empresas de Inserção em Portugal, Porto, REAPN, 2006, 155pp

SÁ, Isabel dos Guimarães, Quando o rico se faz pobre: Misericórdias, caridade e poder no império português 1500-1800, Lisboa, Comissão para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997, 319 pp

SILVA, Agostinho, Escola Nova, in Vida Mundial, Lisboa, 2 de Junho de 1972, pp 48-49

VICENTE, Gil, Auto da Barca do Inferno, Porto, Porto Editora, 1981, 134 pp

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Chicken a la carte

De um email que recebi de Joffre Justino (Director Pedagógico da Escola Profissional Almirante Reis) transcrevo o seguinte:
Temos, 195,2 milhões de Pessoas no Desemprego no Mundo, e 20 milhões na União Europeia. A actividade mundial tem vindo a decrescer durante todos estes últimos meses e as expectativas de recuperação não são visíveis. Mais uma vez, o sistema colapsou em consequência da ganância de uns tantos de uma imensa, ultra, minoria que brincou com as nossas poupanças, e, até, com o nosso desejo de uma Vida Melhor.

Felizmente vivemos numa sociedade com Segurança Social, com Saúde Pública, com um sistema de solidariedade institucional, estatal e comunitária, forte. A Crise afecta-nos claro, mas ainda vamos tendo um Estado que, com os nossos impostos, sustenta uma rede mínima que nos mantém.

Por isso também, em vez dos 20% de Desemprego da vizinha Espanha, estamos nos 8,5% de Desemprego, para os 8,9% da União Europeia.

E poderíamos estar melhor se nos empenhássemos mais na Solidariedade. As Empresas, com um pouco mais de Solidariedade, apoiariam mais oportunidades para Qualificar Pessoas, enquanto a Crise existisse e o Desemprego se mantivesse.

Em baixo está o acesso a um filme de Ferdinand Dinamara que venceu, na categoria de Curtas Metragens, o 56º Festival Internacional de Cinema de Berlim. De imagens de um fastfood nm qualquer país asiático, passa-se para uma realidade daqueles que se alimentam - literalmente! - dos desperdícios deixados por uma sociedade de consumo. Morrem de fome, todos os dias, no Mundo, 25000 Pessoas!

Não devemos ficar a sofrer pela pobreza dos outros mas antes contribuirmos para a criação de uma cultura do não desperdício em que tudo o que é usado é-o na medida em que é necessário. Porque o valor da solidariedade também se constói desse modo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

de férias em Londres


O tempo em Londres foi o de encontro com diferenças e alternativas: da condução à esquerda (do 'Look right' ou 'Look Left' em quase todas as passadeiras), da movida do Soho
dos teatros (Judi Dench, Jude Law, Kenneth Branagh em 'Marquesa de Sade'; Ian Mackelen e Patrick Stewart em 'À espera de Godot) e dos musicais (Priscila, Rainha do Deserto, Fantasma da Ópera com a portuguesa Sofia Escobar no papel de Cristina, ...); dos concertos (fui a um de música barroca na Igreja de St Martin-in-the-Fields). Gostei da miscelânea de culturas, da aceitação da diferença (na indumentária por exemplo). Foi tempo ainda da maratona (para o ano quero ir correr) e dos anúncios de T-Mobile Communications.

Menos positivo a sensação de insegurança (foram vários os pequenos casos de polícia presenciados e omnipresentes as câmaras de segurança ... (no delicado equlíbrio liberdade individual /segurança colectiva ganha claramente esta última).

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Segredo do Cordão de Ouro


Ontem foi o Dia Mundial do Livro e já que estamos a um dia do lançamento de Olhares Convergentes relembro a minha primeira colaboração com uma instituição de Penafiel: a escrita do conto juvenil O Segredo do Cordão de Ouro que integra a Revista Folium nº 1 da Associação dos Amigos do Arquivo de Penafiel (Dezembro de 2007). A Folium é uma inciativa interessante que tem na sua génese uma ideia muito original: a partir de documentos do Arquivo vários autores são desafiados a escrever. No nº 1 privilegiou-se a literatura infanto-juvenil.

Com objectivo de promover a leitura e mostrar que um documento aparentemente tão vulgar como um testamento pode ser fonte de aventura e descoberta, nesse conto narra-se a aventura de 4 primos que, para desvendarem um segredo da herança da sua velha bisavó, enfrentam algumas das letras contidas em Alice no País das Maravilhas (de Lewis Carroll) , Memórias do Cárcere (de Camilo Castelo Branco), Os Lusíadas (de Luís Vaz de Camões) e Os Miseráveis (de Victor Hugo)


Os textos integrais (do conto e do testamento) podem ser encontrados neste velho site.

Olhares Convergentes

Este ano, a Misericórdia Penafiel comemora os seus 500 anos. Das várias inciativas promovidas, destaco o lançamento da Revista Literária Olhares Convergentes, dedicada à Misericórdia de Penafiel em que vários autores foram convidados a escreverem artigos sobre misericórdia em geral e a Misericórdia de Penafiel em específico. O lançamento decorre amanhã pelas 21h30, no auditório com uma tertúlia.

Por motivos de agenda não poderei participar na tertúlia de autores. Fico com imensa pena de não poder balizar o artigo que escrevi [Misericórdia: uma antiga prática com futuro?] com a opinião dos outros autores e do público que assistirá para podermos debater algumas das minhas interrogações. Nesse artigo, abordei um pouco o contexto histórico da época do nascimento das Misericórdias, o contexto presente do terceiro sector terminando com aquilo que julgo serem os desafios futuros da prática da misericórdia: o olhar mais atento à pessoa num contexto de proximidade no quadro da concretização de valores humanistas.

Esta é a minha segunda participação, ao nível de escrita, com uma instituição de Penafiel. No seu devido tempo publicarei aqui o meu artigo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

o debate mais estreito da televisão pública?!


O slogan do programa promete o debate mais alargado da televisão pública. O cartaz diz que a escolha é sua. No entanto, para o suposto primeiro frente-a-frente dos cabeça das listas candidatas apenas os representantes dos partidos que já têm representaçao no Parlamento Europeu como se o mesmo fosse uma tapada onde só entra quem já lá está. Com a agravante que alguns desses partidos ainda nem tem a lista completa nem o seu programa finalizado.

Conheço pelo menos mais 2 candidaturas protagonizadas por 'novos agentes políticos' (Movimento Esperança Portugal e Movimento Mérito e Sociedade) e gostaria de saber mais sobre a sua visão do espaço público e que novas práticas e novas lógicas pretendem trazer para o campo político. Julgo que estes novos partidos deviam até ser merecedores de uma atenção redobrada por parte da comunicação social no sentido de darem a conhecer novos protagonistas. novas ideias... E só com o conhecimento de TODAS as candidaturas, o eleitor poderá, de seguida, escolher a sua opção, em consciência.

Mas talvez o Prós e Contras não seja o debate mais alargado da televisão. Pelo menos, a julgar pela estreiteza e limitação que o programa de hoje deverá apresentar.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Como cada coisa tem a sua cor
cada coração tem a esperança.
Havemos de somar projectos,
palmilhar destinos,
desfiar preocupações...
Mas a esperança é o segredo
que nos faz sair de nós,
criar e recriar, crer!
Por causa da esperança
o comum não se esvazia,
nem o inesperado nos trava;
o difícil é olhado com coragem
e o tempo feliz vivido com humildade.
A esperança é persistente,
não desarma.
Como o fogo debaixo da cinzas
empre resiste.
A esperança é actuante,
não cruza os braços.
Tem a paciência impaciente
das sementes
que, em vez de lamentar
o escuro da terra,
desatam a crescer.
A esperança é a palavra
que traz dentro a confiança.
Somos pessoas de esperança?"
(José Tolentino Mendonça)

domingo, 12 de abril de 2009



Amo-te muito

(assim mesmo)

com as letras todas

por extenso

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Uma varanda quase a florir


Este ano, as flores da minha varanda começam já a desabrochar e parecem estar quase, quase a florir. Há uma trepadeira que se manteve "parada" durante anos e agora parece vir em todo o vigor (em menos de um mês um ramo cresceu 20 cm!). Gosto desse prenúncio de cor sobretudo por perceber o gosto na paciência por um tempo que é mais lento e que por isso às vezes parece que custa a passar...mas que depois aparece em todo o esplendor.
Penso nisso quando oiço dizer que quando alguém morre ficamos todos mais próximos de Deus. Não sei se olhe para isso com um lado de sorte ou tristeza sobretudo pela dor causada com a separação. O Carlos é meu mestre nas visitas às prisões e sinto a sua ausência com muita tranquilidade. O Pedro é meu amigo, primo,companheiro de bricandeiras de infância e partiu subitamente no início desta semana. É muito estranho pensar na morte como comunhão. E neste mistério de que a Ressureição acontece na morte e não depois da morte é algo que às vezes custa a 'engolir' mesmo para quem pensa que anda a construir alguma fé em Cristo.
  Este tempo de morte devia-nos orientar para as coisas que são mesmo importantes, aquelas pelas quais vale a pena lutar e construir. Aquelas que se erguem com calma por precisarem de tempo de reflexão e de maturação. Como as plantas de uma varanda que já já vão começar a florir

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sinto-me orfão...

Desde sexta que me sinto orfão...Morreu um Mestre e julgo que quando tal acontece fico meio perdido porque há um vazio nas referências que parece que fica ali por preencher.

Nunca fui de grandes ídolos ou de me reverenciar perante personalidades embora, como é óbvio, admire e respeite imensa gente. Mas se calhar estou mais atento àquelas pessoas que foram moldando (que moldam!) a minha personalidade: os meus pais; as minhas professoras de História e Latim que sempre incetivaram o espírito crítico; o José António que me ensinou solfejo...

O Carlos Coelho já é do tempo do Porto, da minha entrada no voluntariado de visitas às prisões. E quando em Santa Cruz do Bispo se refere a ele como Carlos I isso quer dizer muito, não é? Ele que fez visitas creio que durante décadas, uma fez referiu-se a mim, logo nos meus primeiros tempos como "o Rui é profissional nisto". Digo-o com sentido orgulho porque quando um Mestre se refere-se assim a um aluno é porque o aluno está no caminho certo. E neste caso, o aluno era (sou) eu...

Disse o Pe. Vasco Pinto Magalhães que quando alguém morre todos nós beneficiamos porque ficamos mais próximos de Deus. E por isso há que pensar na morte como sinal de alegria. Confesso que, mesmo para mim que sou crente, este é um dos maiores mistérios... encarar com alegria algo que nos faz sofrer, no sentido em que temos de lidar com uma perda. Mas ao longo de todo o fim-de-semana, senti uma imensa tranquilidade nesta partida do Carlos, no exemplo de humildade que dava, no lava-pés que no caso dele se concretizava na atenção que dedicava aos reclusos.

Sinto-me orfão mas ao mesmo com o sentimento de que a responsabilidade é ainda maior.

Sinto-me

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Hoje também é o dia de Inês, a Pipoca

Sendo hoje o Dia Internacional do Livro Infantil é também um pouco o dia de "Inês, a Pipoca". Relembro a capa bem como algumas críticas que me fizeram aquando da sua publicação. Aliás, esses comentários permitiram-me, de alguma forma, encontrar-me com os seus autores (e isso não deixa de ser um dos objectivos deste blogue)

Teresa Sá Couto escreveu:

«Todos temos um quarto de brinquedos dentro do nosso coração. É lá que guardamos os nossos sonhos, as nossas alegrias e, por que não dizê-lo, as nossas tristezas e os nossos medos », diz-nos em introdução o texto que dá largas à imaginação para explicar o milagre da vida.

É a primeira história infantil de Rui Ivo, nascido em 1972 bem Moçambique, mas a viver em Portugal desde os 3 anos de idade, que diz que a realidade «é a verdadeira fonte da imaginação e da fantasia, o terreno onde os sonhos se concretizam.». E o terreno desta história é ainda adubado pelas ilustrações vibrantes de Marita Ferreira, também nascida em Moçambique e que há muito se dedica às artes plásticas e à escrita.

A personagem, uma menina chamada Inês, quer saber porque lhe chamam "a Pipoca". Inventiva, a explicação origina uma história que é uma surpresa. Tal como o grão de milho tem de estar num lugar quente para se transformar em pipoca, também as crianças são primeiro sementes que necessitam de um lugar quente para crescerem e finalmente poderem saltar e explodir em curiosidade com formas de «mil feitios».
Mas se é este o início da narrativa, o seu desenvolvimento é menos tradicional. Solta-se a imaginação e o grão dourado envolve-se em peripécias onde não falta uma bruxa má – a simbolizar os obstáculos à vida –, uma fada boa, estrelas e os pais que sonham e zelam pela semente mágica.

Pe. Luís Maria Providência, sj escreveu:
Da conjugaçao perfeita/óptima do teu texto e do trabalho da ilustradora, nasceu este livro que deu a conhecer a história da Pipoca. Do ponto de vista das imagens (metáforas) e de imaginação (fantasia) foste particularmente feliz. Encorajo-te a continuares, não te ficando pelo estritamente social ("realidade nua e crua" da sociologia e da pobreza), mas procurando doseá-lo (o social) com o mundo da fantasia (não disse da alienação), de modo a que às portas (alternativas) que passariam despercebidas lhes seja dada a devida atenção.

Preparar a Idade Maior

Escreveu Bruto da Costa:«Os idosos representam um grupo particularmente atingido pela exclusão social, entendida como um processo que conduz ao afastamento progressivo e cada vez mais grave de pessoas do “estilo de vida” corrente na sociedade». Esse afastamento conduz, no caso particular dos idosos, a situações de solidão e foi sobre este tema em concreto que o MEP organizou uma tertúlia na FNAC Gaiashopping.

Alguns dados estatísticos sobre a realidade em Portugal:
- num período de 50 anos, entre 1960 e 2004 a população idosa mais que duplicou em valores absolutos (1960: 708569 idosos; 2004: 1 790 539) sendo previsível que quase duplique até 2050( estimativa de 3 milhões de indivíduos);
- entre 1960 e 2004, verificou-se um aumento de 8% para 17% da proporção da pop. idosa face ao total da população (previsão de que esse valor venha a ser de 32% em 2050);
- aumento significativo da população mais idosa (mais de 80 anos): 1960: 107 617 pessoas; 2004: 401 008. Tal é reflexo de uma crescente longevidade sendo que este crescimento é o mais significativo do que qualquer outro grupo etário. Prevê-se que em 2050 10,2% dos portugueses terão mais de 80 anos (1960: 1,2%; 2004: 3,8%);
- o índice de dependência de idosos - relação entre a população idosa e a população potencialmente activa (15 aos 64 anos) – quase duplicou entre 1960 e 2004, passando de 13 para 25 idosos por cada 100 indivíduos em idade activa, prevendo-se que este valor mais que duplique em 2050.

Presentes na tertúlia estiveram Artur Santos e Tito Rodrigues respectivamente director e aluno da Universidade Sénior Contemporânea do Porto, Joana Guedes, docente do Instituto Superior de Serviço Social do Porto, e Alice Seixas, médica de família que exerce funções em Centros de Saúde do Porto.

Sobre o tema foram levantadas algumas questões como:
- necessidade de reconfigurar as lógicas actuais da sociedade excludentes da pessoa idosa: o afastamento do sistema produtivo é condição para a tornar descartável para a sociedade; a organização do tempo (emprego, transportes,…) não permite às famílias disporem de tempo quer para os seus idosos quer para as suas crianças;
- o que é mais preocupante: o idoso que vive só mas tem consciência disso (e é apoiado externamente) ou o idoso que vive com família que não tem disponibilidade e o vota a situação de abandono?;
- sendo os maiores consumidores de cuidados de saúde (medicamentos, consultas), o médico de família assume-se muitas vezes como um amigo e conselheiro? Há necessidade de uma ainda maior aposta numa visão holística (bio-psico-social) na forma como é encarada o tratamento do utente pela medicina?
- existência de universidades seniores como espaços e tempos onde são desenhados e desenvolvidos projectos de vida para que a pessoa continue a ocupar o seu espaço na sociedade. Deve o conhecimento aqui produzido ser certificado?


Por último foram deixados dois conselhos para um envelhecimento activo: ter hábitos de vida regrados e saudáveis (com destaque para uma alimentação correcta contrariando o fast food) e criar a necessidade de maior conhecimento e interesse pelo conhecimento, pela cultura, pelas artes de modo a que ele possa vir ser desenvolvido na idade maior.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

E porque não?

Sobre um excelente artigo do Público que Carlos Albuquerque colocou no blogue do MEP aqui fica a minha resposta

Nesta nova questão da moda [casamento entre pessoas do mesmo sexo, adopção por homossexuais] há que também ver as questões pelos lados menos óbvios do que aqueles que nos são servidos pela comunicação social ou que temos cá dentro por "culpa" da nossa socialização.

À luz da actual lei um(a) homossexual pode adoptar pois a questão de orientação sexual não é critério e não pode sequer ser questionada. Mas mais importante do que discutir se os homossexuais podem adoptar é discutir o direito que todas as crianças têm a uma vivência familiar condigna onde impere o amor e as condições dignas para um desenvolvimento estável.

Em Portugal cerca de 15 mil crianças vivem institucionalizadas (são mais que a população reclusa). A possibilidade de adopção por parte de casais homossexuais não virá resolver o problema mas esta não é uma questão de números! Se houver famílias de pessoas do mesmo sexo que tenham as condições necessárias (com o amor à cabeça) eu pergunto: E porque não?


E esta é também uma questão simbólica de permitir a uma minoria o acesso a um conjunto de direitos que a maioria já detém: uma questão de igualdade na construção de uma sociedade mais justa.

quinta-feira, 26 de março de 2009

quinta-feira, 19 de março de 2009

Haverá vida..?



Haverá vida nesta casa

Quando não penso em ti?

sexta-feira, 13 de março de 2009

In Memoriam

(carreguem na imagem para poderem ler com mais atenção!)



quarta-feira, 11 de março de 2009

Atlestimo português em grande!

Domingo passado segui com atençao a prestação portuguesa nos Campeonatos Europeus de Atletismo em pista coberta. Foi bom saber que Sara Moreira conquistou a medalha de prata nos 3000m melhorando a sua marca pessoal.

Rui Silva sagrou-se tricampeão europeu, brindando-nos com o ouro nos 1500m, uma vitória que, como o próprio admite, tem um sabor especial por ter estado afastado 4 anos devido a lesões. Pessoalmente já o vi correr na S. Silvestre. Ainda estava eu a completar a 1ª volta quando o Rui já ia em passos (bem) largos para a meta. Fico contente de saber que o seu trabalho e a sua tenacidade deram agora bons resultados.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dar sangue é dar vida


Sou dador desde os meus 19 anos. Há uma mística especial nesse acto de entrega. Deve ser porque se está literalmente a partilhar a vida. E deve ser também por isso que quase sempre (a desonrosa excepção foi no Hospital de S.João) o atendimento de que fui alvo é exemplar no seu profissionalismo desde o/a funcionário/a que recebe, passando pelos médicos e enfermeiros até a quem nos serve o lanche obrigatório no final da dádiva.

Mais recentemente faço as minhas dádivas no Instituto Português do Sangue do Porto. O seu rigor e exigência fazem-no ser um exemplo do que deve ser um serviço público da maior qualidade. E sempre com a preocupação de se manterem actuais. Não é por acaso que já é possível marcar as dádivas no seu sítio da internet.

Dei sangue na terça. Ontem recebi mensagem no telemóvel a agradecer a dádiva, a informar-me que as minhas análises estavam bem e que esperavam por mim em Junho. Lá irei, pois claro!

quinta-feira, 5 de março de 2009

Magnólia(s)

O tempo cinzento, chuvoso e frio parece ter voltado. Mas há coisas simples que nos continuam a lembrar cores mais vivas e alegres. Reparem em algumas das inúmeras magnólias que vão florindo o Porto.







sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Momentos simples

Era bom todos podermos começar o dia assim... com a simplicidade daqueles momentos que deixam as nossas células bem dispostas! E mesmo nos nossos contextos urbanos isso é possível. Reparem nesta campanha de uma operadora móvel que pôs as pessoas a dançar numa estação de metro.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Um português criativo

Aos 30 anos, o português Manuel Lima foi eleito pela revista norte-americana Creativity como uma das 50 mentes e influentes de 2009. Fico orgulhoso se pensar que na lista figuram personalidades como Jeff Bezos (fundador da Amazon), David Axelroad (estratego da campanha de Obama),Sergey Brin e Larry Page (criadores do Google) e Jean Nouvel (arquitecto francês).

Formado em Arquitectura do Design pela Universidade Técnica de Lisboa, Manuel Lima ja passou por Nova Iorque e Londres. Trabalha para a Nokia no design de software para telemóveis. Mas o que chamou a atenção da revistam, foi o site Visualcomplexity (carregar na imagem acima para aceder) sobre um tema muito pouco habitual: «Fui tentar descobrir o que havia de semelhança entre redes tão diferentes como as sociais, as políticas, as informáticas, as genéticas ou até as redes de transportes. Como se visualizaria na Net estes redes? Como se relacionariam elas entre si? E como podia dar-se às pessoas o máxim de informação sobre elas?»

Aquele sítio tem cerca de 600 visualizações: desde a rede de Metro de Nova Iorque às ligações entre os doadores das principais campanhas norte-americanas ou à rede de proteínas do corpo humano. Interessante?! E feito por um português ...



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sean 'Milk' Penn

Confesso que não fiquei particularmente simpatizante com a figura de Harvey Milk (que só conheço do filme) embora reconheça a importância simbólica que teve e tem, para a causa dos direitos civis dos homossexuais, por ter sido o primeiro político gay a assumir um cargo público.

Já a versatilidade de Sean Penn mostrou-me aquilo que já se sabia: é sem dúvida um dos melhores actores do momento. O Mikey Rourke que me desculpe mas o Oscar foi excelentemente atribuido.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Enterro do Bacalhau no Soutocico

A propósito de uma tradicão de origens seculares da minha aldeia, ali para os lados de Leiria - o SOUTOCICO - uma amiga minha descobriu um outro evento em tudo similiar organizado no Barreiro.

O ENTERRO DO BACALHAU, pelo menos no Soutocico, é na sua origem uma teatralização satírica, crítica de costumes ao facto de antigamente não se poder comer carne na quaresma mas, de hipocritamente, haver uns quantos que se safavam pagando a bula. Hoje em dia, os textos são adaptados à actualidade. O bom mesmo é perceber que toda uma aldeia se mobiliza para este projecto comunitário. Serão reminiscências de comunitarismo? São mais de 300 figurantes (padres, freiras, varinas, músicos, cangalheiros, carpideiras, viúvas,...). Eu costumo ir de "tocha" participando activamente na iluminação do percurso.

Por dificuldade financeiras, o Clube Desportivo e Reacrativo do Soutocico organiza o Enterro de 4 em 4 anos (é fácil lembrar - calha sempre em ano de Jogos Olímpicos e no sábado a seguir à Páscoa). Para os mais curiosos aqui fica um pequeno vídeo.



sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sonhos de liberdade



Melhor Filme em Classe Curta Metragem do Festival de Cinema de Berlim

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O tempo acaba o ano, o mês e a hora

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;

O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

Luis Vaz de Camões

domingo, 8 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Doce Solidão

Acabo o dia de hoje a explorar novos sons d' além Atlântico...

Caetano Veloso escreveu , «por um momento, por um período, Marcelo Camelo é a estrela solitária da canção popular brasileira», referindo-se a um "show" (brasileirismo para concerto?) que Marcelo deu com Hurtmold.

Marcelo quer que toda a gente copie as suas músicas da internet, porque diz que tal permite o aumento da inteligência colectiva. Certo é que Marcelo parece entender o poder da música usada enquanto linguagem universal e enquanto elemento de aproximação e entendimento socialFoi talvez por isso que gravou o primeiro vídeo do seu primeiro álbum Sou/Nós no Bairro 6 de Maio, na Damaia. Será uma nova versão do uso da cantiga como arma?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Amor (I)

O meu amor alimenta-se do teu amor, amada,
E enquanto viveres estará em teus braços
Sem sair dos meus

Pablo Neruda

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Pausa

O relógio aqui ao lado a mexer ininterruptamente os seus ponteiros (tal como um série de amigos/as que se queixa neste início do ano de não conseguir parar). Devíamos poder fazer um pausa Kit-Kat ou então fazer mesmo o tempo de pausa, o tempo de espera de que fala o Tiago Bettencourt

Em todas as casas
no escorrer das paredes
há um tempo de espera.
à espera de quê?

em todos os dias
por trás das horas
há um tempo de espera
à espera para quê?

tudo parado, entorpecido
tudo não anda
porquê?

a areia no chão
o vento dormente
o ar inquieto...

a ideia de acontecer

... a pausa
Tiago Bettencourt

sábado, 24 de janeiro de 2009

Mar Sonoro


Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um Deus com muito humor!

Deus é amor, claro!
Um amor que se revela também com muito humor!
Reparem na simplicidade da anedota
E sobretudo na gargalhada sentida

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Há 5 anos Egas Pipoco deixou-se envolver pela magia de Inês a Pipoca

Maternidade do Hospital de Santo André, Leiria 17h20
Talvez abatido pelo cansaço ou pela demora do tempo de espera, o pai resolve ausentar-se durante uns momentos para ir lanchar

Algures numa rua do Porto, (R. D. João I, em frente à Biblioteca Pública?), 19h40
O telemóvel toca.
- Estou?!
- A Inês já nasceu!! E sabes que dia é hoje? É dia de Santa Inês

A voz do meu irmão transbordava felicidade. A conquista de um sonho antigo concretizava-se finalmente. Eu fiquei para ali a saborear as intensidades daqueles momentos. Em casa ensaiei uma carta que guardo para lhe entregar. Tem um título e tudo: qualquer coisa como obrigado por te deixares ser minha também.

Não gostei, no entanto, dessa escrita. Foi então que ela me mostrou a fantasia: do Papá e da Mamã; da Bruxa das Pintas Pretas vagamente inspirada numa cadela dálmata; da Fada dos Moinhos, imagem do meu avô Manel do Neco; do gato-tigre André… desse Lugar do Poço onde moram bruxas, fadas e meninas-pipoca...

(Se quiserem saber mais leiam Inês a Pipoca, Campo das Letras, 2006)

Hoje celebro a vida da Inês. E dos muitos, muitos, muitos momentos mágicos: de voarmos numa vassoura transformados em bruxas; de corrermos na cozinha em volta da mesa; do seu primeiro espectáculo (no Coliseu a ver o Noddy) do seu primeiro filme (O Rei Leão), da sua primeira ida ao cinema (Ratatui); da primeira vez que ouvi “Tio Rui” e descoberta desse alter-ego chamado Egas Pipoco flutuando pelo meio de corações azuis e brancos.

A realidade ultrapassa a ficção e afinal no Lugar do Poço havia 2 sementinhas. O meu irmão continuou sem conseguir ver o parto…da segunda vez porque se atrasou…Mas disso falarei daqui a 15 dias quando celebrar a vida da Filipa. Hoje retomo ilustrações do livro e essa centralidade do amor de um casal que não deixou de lutar pelo sonho dos seus quartos de brinquedos. Porque hoje também é dia de dizer: Parabéns Mário! Parabéns Marlene!






sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Olhar o outro na pessoa do ex-recluso

Publico aqui mensagem já colocada no blogue do MEP, no âmbito de um trabalho que desenvolvemos sobre Ex-reclusos em fase de reintegração (projecto Perfis de Exclusão. Proposta de Inclusão)

Enquadrados por estes aspectos decorreu em Matosinhos uma tertúlia sobre o tema da inclusão social de ex-reclusos. Nesta questão, a indiferença e o preconceito da sociedade está muito associada à ideia de que os reclusos estão privados da liberdade porque cometeram um crime pelo qual têm de pagar não necessitando de qualquer apoio. Contrariando esta lógica meramente punitiva Cláudia Assis Teixeira (presidente da Ass. Foste Visitar-Me) lembrou que são seres humanos que precisam de ajuda. Ana Gomes (psicóloga) e Catarina Salgueiro (educadora) falaram do trabalho efectuado internamente. Ao nível da toxicodependência (2º tipo de crime mais frequente) o trabalho é efectuado sobretudo nas Unidades Livres de Drogas onde os indivíduos são sujeitos a um intenso auto-conhecimento. Por outro lado, e para quem pretenda, são promovidas as competências escolares e qualificacionais como forma de tornar a futura inclusão menos problemática. À parceria já estabelecida com o Instituto de Emprego e Formação Profissional foi sugerida a parceria com o sector empresarial para adequar a oferta formativa às necessidades existentes e assim dotar os reclusos de conhecimentos que possibilitem uma inserção via mercado de trabalho.

A prisão foi defendida como local que deve desenraizar menos garantindo uma proximidade com os contextos sociais e familiares de origem. Aqui foi defendida uma melhor e maior articulação, numa lógica de integração de serviços, entre a educação social na prisão, a reinserção social e acção social exterior.

Rui Rosas falou da importância do apoio da sua família no seu processo de recuperação, no apoio psicológico recebido, da educação que aproveitou para retomar enquanto esteve na prisão. Mas falou também da necessidade de maior humanização (são pessoas não números) de maior envolvimento dos técnicos de acompanhamento. O sistema prisional deve internamente incluir mecanismos que facilitem o processo de reintegração e isso passa, em grande medida, pelo desenvolvimento logo à chegada de um projecto individual que deve agarrar a vontade do recluso.

Errar é humano. Não esquecer quem erra também ao olhar para o rosto do Outro na pessoa de um ex-recluso, criando condições que permitam a sua efectiva regeneração e consequentemente a restauração de laços de confiança anteriormente quebrados. Então, deve ser desígnio da sociedade dar-lhe uma segunda oportunidade. Assim estaremos a ver as pessoas de outra forma, a concretizar a Utopia.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Com calor, festa, alegria e ternura

Este final de ano/início de ano novo tem sido marcado por mortes repentina: nos dias a seguir ao Natal o suicídio do filho de um visitador de Santa Cruz do Bispo; ontem um rapaz da freguesia (44 anos) foi encontrado morto no sono.

Fico confuso... O Senhor Jerónimo é daquelas pessoas em que a preocupação e a bondade para com o Outro se percebe logo. Faz visitas há imenso tempo e quando calha de me cruzar com ele na prisão aprendo imenso com o à vontade com que comunica com os reclusos. O Paulo era umas das pessoas mais trabalhadoras e profissionais no seu trabalho (toda a gente diz mal dos empreiteiros e dos pedreiros mas ele era a excepção).

Acredito que não somos nós que salvamos o mundo mas podemos trabalhar na construção de um mundo mais perfeito. Somos pelo menos obrigados a fazer esse esforço.

Não sei se muito a propósito lembrei-me da mensagem da Eva para este Natal

Não ando com grande espírito natalício
Mas não posso pensar só em mim
Porque vocês podem ter esse espírito
Viver esta época no seio familiar
Com calor, festa, alegria e ternura

Pela minha parte
Vou fazer força e dar o meu melhor
Para que este Natal e o ano que aí vem
Sejam assim
Com calor, festa, alegria e ternura
Mesmo com todas as dificuldades anunciadas
Anunciado foi também aquele
Que "nasce" neste dia.

Esta imagem é de uma antiga capelinha
Que já não existe
Um prédio de luxo mora agora no seu lugar
Este se calhar não é o melhor exemplo
Mas olhando para os edifício degradados
Ao abandono
Podemos anunciar o seu futuro quase certo.
É pena
Os espaços também precisam
De calor, festa, alegria e ternura
Eva Lima

Gato André dançando com um régua

Em sinal de agradecimento pelas muitas mensagens de saudades do Gato André aqui fica uma amostra do seu espírito livre. Obrigado Carlos por este registo.

Reparem no final como, com a música em crescendo, desaparece de cena. O Joe, a Leonor têm razão... o André era mesmo um espírito indomável, repentino na forma como surpreendia...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Receita de Biscoitos de Gengibre (há muitas maneiras de se estar presente…)

O ano recomeçou com um (re)tomar bastante acelerado de várias actividades: a desconstrução das rotinas com o gato André; o terminar do curso de Formação de Formadores; a preocupação com o texto que tenho de escrever para a publicação comemorativa dos 500º aniversário da Misericórdia de Penafiel e a interrogação como abordar o tema da misericórdia. Regresso a duas novas funções na REAPN: a avaliação de projecto de intervenção social e a coordenação da delegação portuguesa ao 8ºEncontro Europeu de Pobres mas há muito mais…Integro a lista do MEP às eleições europeias, realiza-se uma formação este fim‑de‑semana e nem tive tempo de me preparar correctamente.

Ainda por cima, na sexta tenho também jantar do meu grupo de CVX a que não poderei ir. Mas aproveitando uma prenda de Natal -um livro de receitas de biscoitos - preparei umas bolachas de gengibre que acabei de fazer (os 10 minutos de preparação indicados no livro passaram a 3 horas...digamos que sou mais pensativo na abordagem que faço aos ingredientes)

Soube-me bem fazer esta pausa. Pode haver poesia numa receita de cozinha? Isso não sei mas estive (bem) acompanhado em espírito pelos meus amigos do Grupo Clô. Só isso explica que as bolachas (bolachas, biscoitos … o nome não interessa muito!) tenham saído bem logo à segunda!! Estão com muito melhor aspecto do que as do livro e em termos de sabor também. Quer dizer, não provei as do livro por desconfiar que iam saber muito a papel…

Querem a receita …? É le Cordon Bleu, bien sûr!
15g de manteiga com sal
15g de açúcar em pó
30g de calda dourada
20g farinha sem fermento
½ colher de chá de gengibre moído
Pitada de sal

Depois de uma tentativa frustrada de seguir o livro à risca – epá, era preciso usar pinças e matriz e abrir o frigorifico e fechar o forno e solidificar não sei o quê e arrefecer o restante, … – aqui vai a minha própria versão do modo de preparação: colocar tudo para uma frigideira, ir misturando até fazer uma massa mais ou menos homogénea. Retirar, estender com o rolo da massa e com um copo fazer pequenos círculos, retirá-los e colocá-los sobre um tabuleiro previamente untado. Ir ao forno até dourarem e depois retirar…Não é muito mais simples? Descobri logo esta forma à segunda tentativa..

E pronto… o jantar segue dentro de momentos com esta minha forma de não estar ausente.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Aqui na orla do mar

Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,
Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,
E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.

A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio
Ou como um passo na alfombra de um quarto que jaz vazio;
O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é;
A glória concede e nega; não tem verdades a fé.

Por isso na orla morena da praia calada e só,
Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.

Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso, senão a brisa na face;
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei,
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.

Só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu,

T ocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu.


Fernando Pessoa

domingo, 4 de janeiro de 2009

Um corredor sem cor (requiem por um gato maluco)

Perturba-me esta sua ausência repentina. Afinal foi meu companheiro durante 5 anos e quase 3 meses. Poucas coisas haverá aqui mais velhas do que ele. Era aliás uma marca genuína cá da casa. E original! Era verde pintalgado.

Estranhas coincidências. Hoje mesmo pensei que o tinha de levar ao veterinário, deslocação anual que detestava. Se calhar foi por isso que resolveu partir. Não me admirava nada. Toda a gente conhecia a sua imprevisibilidade.

Fisicamente a casa era o seu espaço. Também o corredor. Quando alguém nos visitava, ia buscá-lo, elegante e hospitaleiro, ao elevador. Em troca apenas exigia umas boas pernas para morder. Maluco?! Não! Apenas com uma vontade própria muito intensa. Também deixa marcas no sofá novo ( já devia saber do anacronismo e pouca pedagogia das tentativas de reeducação).

Mas tenho de aceitar esta sua súbita partida. Sei que o encontrarei sempre em lugares de fantasia. Como no jardim das meninas-pipoca, ali mesmo no Lugar do Poço, onde se transformava em gato-tigre. Ou naquele apartamento de um 2º andar numa rua movimentada de uma ainda mais movimentada cidade onde um menino André se delicia com as suas tropelias. Já devia saber. Frutos de feitiços mal sucedidos de bruxas são ...caixinhas de surpresas.

André, vais-me fazer falta para aqueles momentos de manhã em que voltávamos a ser miúdos. Sem ti o corredor perde a cor.