Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Pausa

O relógio aqui ao lado a mexer ininterruptamente os seus ponteiros (tal como um série de amigos/as que se queixa neste início do ano de não conseguir parar). Devíamos poder fazer um pausa Kit-Kat ou então fazer mesmo o tempo de pausa, o tempo de espera de que fala o Tiago Bettencourt

Em todas as casas
no escorrer das paredes
há um tempo de espera.
à espera de quê?

em todos os dias
por trás das horas
há um tempo de espera
à espera para quê?

tudo parado, entorpecido
tudo não anda
porquê?

a areia no chão
o vento dormente
o ar inquieto...

a ideia de acontecer

... a pausa
Tiago Bettencourt

sábado, 24 de janeiro de 2009

Mar Sonoro


Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um Deus com muito humor!

Deus é amor, claro!
Um amor que se revela também com muito humor!
Reparem na simplicidade da anedota
E sobretudo na gargalhada sentida

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Há 5 anos Egas Pipoco deixou-se envolver pela magia de Inês a Pipoca

Maternidade do Hospital de Santo André, Leiria 17h20
Talvez abatido pelo cansaço ou pela demora do tempo de espera, o pai resolve ausentar-se durante uns momentos para ir lanchar

Algures numa rua do Porto, (R. D. João I, em frente à Biblioteca Pública?), 19h40
O telemóvel toca.
- Estou?!
- A Inês já nasceu!! E sabes que dia é hoje? É dia de Santa Inês

A voz do meu irmão transbordava felicidade. A conquista de um sonho antigo concretizava-se finalmente. Eu fiquei para ali a saborear as intensidades daqueles momentos. Em casa ensaiei uma carta que guardo para lhe entregar. Tem um título e tudo: qualquer coisa como obrigado por te deixares ser minha também.

Não gostei, no entanto, dessa escrita. Foi então que ela me mostrou a fantasia: do Papá e da Mamã; da Bruxa das Pintas Pretas vagamente inspirada numa cadela dálmata; da Fada dos Moinhos, imagem do meu avô Manel do Neco; do gato-tigre André… desse Lugar do Poço onde moram bruxas, fadas e meninas-pipoca...

(Se quiserem saber mais leiam Inês a Pipoca, Campo das Letras, 2006)

Hoje celebro a vida da Inês. E dos muitos, muitos, muitos momentos mágicos: de voarmos numa vassoura transformados em bruxas; de corrermos na cozinha em volta da mesa; do seu primeiro espectáculo (no Coliseu a ver o Noddy) do seu primeiro filme (O Rei Leão), da sua primeira ida ao cinema (Ratatui); da primeira vez que ouvi “Tio Rui” e descoberta desse alter-ego chamado Egas Pipoco flutuando pelo meio de corações azuis e brancos.

A realidade ultrapassa a ficção e afinal no Lugar do Poço havia 2 sementinhas. O meu irmão continuou sem conseguir ver o parto…da segunda vez porque se atrasou…Mas disso falarei daqui a 15 dias quando celebrar a vida da Filipa. Hoje retomo ilustrações do livro e essa centralidade do amor de um casal que não deixou de lutar pelo sonho dos seus quartos de brinquedos. Porque hoje também é dia de dizer: Parabéns Mário! Parabéns Marlene!






sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Olhar o outro na pessoa do ex-recluso

Publico aqui mensagem já colocada no blogue do MEP, no âmbito de um trabalho que desenvolvemos sobre Ex-reclusos em fase de reintegração (projecto Perfis de Exclusão. Proposta de Inclusão)

Enquadrados por estes aspectos decorreu em Matosinhos uma tertúlia sobre o tema da inclusão social de ex-reclusos. Nesta questão, a indiferença e o preconceito da sociedade está muito associada à ideia de que os reclusos estão privados da liberdade porque cometeram um crime pelo qual têm de pagar não necessitando de qualquer apoio. Contrariando esta lógica meramente punitiva Cláudia Assis Teixeira (presidente da Ass. Foste Visitar-Me) lembrou que são seres humanos que precisam de ajuda. Ana Gomes (psicóloga) e Catarina Salgueiro (educadora) falaram do trabalho efectuado internamente. Ao nível da toxicodependência (2º tipo de crime mais frequente) o trabalho é efectuado sobretudo nas Unidades Livres de Drogas onde os indivíduos são sujeitos a um intenso auto-conhecimento. Por outro lado, e para quem pretenda, são promovidas as competências escolares e qualificacionais como forma de tornar a futura inclusão menos problemática. À parceria já estabelecida com o Instituto de Emprego e Formação Profissional foi sugerida a parceria com o sector empresarial para adequar a oferta formativa às necessidades existentes e assim dotar os reclusos de conhecimentos que possibilitem uma inserção via mercado de trabalho.

A prisão foi defendida como local que deve desenraizar menos garantindo uma proximidade com os contextos sociais e familiares de origem. Aqui foi defendida uma melhor e maior articulação, numa lógica de integração de serviços, entre a educação social na prisão, a reinserção social e acção social exterior.

Rui Rosas falou da importância do apoio da sua família no seu processo de recuperação, no apoio psicológico recebido, da educação que aproveitou para retomar enquanto esteve na prisão. Mas falou também da necessidade de maior humanização (são pessoas não números) de maior envolvimento dos técnicos de acompanhamento. O sistema prisional deve internamente incluir mecanismos que facilitem o processo de reintegração e isso passa, em grande medida, pelo desenvolvimento logo à chegada de um projecto individual que deve agarrar a vontade do recluso.

Errar é humano. Não esquecer quem erra também ao olhar para o rosto do Outro na pessoa de um ex-recluso, criando condições que permitam a sua efectiva regeneração e consequentemente a restauração de laços de confiança anteriormente quebrados. Então, deve ser desígnio da sociedade dar-lhe uma segunda oportunidade. Assim estaremos a ver as pessoas de outra forma, a concretizar a Utopia.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Com calor, festa, alegria e ternura

Este final de ano/início de ano novo tem sido marcado por mortes repentina: nos dias a seguir ao Natal o suicídio do filho de um visitador de Santa Cruz do Bispo; ontem um rapaz da freguesia (44 anos) foi encontrado morto no sono.

Fico confuso... O Senhor Jerónimo é daquelas pessoas em que a preocupação e a bondade para com o Outro se percebe logo. Faz visitas há imenso tempo e quando calha de me cruzar com ele na prisão aprendo imenso com o à vontade com que comunica com os reclusos. O Paulo era umas das pessoas mais trabalhadoras e profissionais no seu trabalho (toda a gente diz mal dos empreiteiros e dos pedreiros mas ele era a excepção).

Acredito que não somos nós que salvamos o mundo mas podemos trabalhar na construção de um mundo mais perfeito. Somos pelo menos obrigados a fazer esse esforço.

Não sei se muito a propósito lembrei-me da mensagem da Eva para este Natal

Não ando com grande espírito natalício
Mas não posso pensar só em mim
Porque vocês podem ter esse espírito
Viver esta época no seio familiar
Com calor, festa, alegria e ternura

Pela minha parte
Vou fazer força e dar o meu melhor
Para que este Natal e o ano que aí vem
Sejam assim
Com calor, festa, alegria e ternura
Mesmo com todas as dificuldades anunciadas
Anunciado foi também aquele
Que "nasce" neste dia.

Esta imagem é de uma antiga capelinha
Que já não existe
Um prédio de luxo mora agora no seu lugar
Este se calhar não é o melhor exemplo
Mas olhando para os edifício degradados
Ao abandono
Podemos anunciar o seu futuro quase certo.
É pena
Os espaços também precisam
De calor, festa, alegria e ternura
Eva Lima

Gato André dançando com um régua

Em sinal de agradecimento pelas muitas mensagens de saudades do Gato André aqui fica uma amostra do seu espírito livre. Obrigado Carlos por este registo.

Reparem no final como, com a música em crescendo, desaparece de cena. O Joe, a Leonor têm razão... o André era mesmo um espírito indomável, repentino na forma como surpreendia...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Receita de Biscoitos de Gengibre (há muitas maneiras de se estar presente…)

O ano recomeçou com um (re)tomar bastante acelerado de várias actividades: a desconstrução das rotinas com o gato André; o terminar do curso de Formação de Formadores; a preocupação com o texto que tenho de escrever para a publicação comemorativa dos 500º aniversário da Misericórdia de Penafiel e a interrogação como abordar o tema da misericórdia. Regresso a duas novas funções na REAPN: a avaliação de projecto de intervenção social e a coordenação da delegação portuguesa ao 8ºEncontro Europeu de Pobres mas há muito mais…Integro a lista do MEP às eleições europeias, realiza-se uma formação este fim‑de‑semana e nem tive tempo de me preparar correctamente.

Ainda por cima, na sexta tenho também jantar do meu grupo de CVX a que não poderei ir. Mas aproveitando uma prenda de Natal -um livro de receitas de biscoitos - preparei umas bolachas de gengibre que acabei de fazer (os 10 minutos de preparação indicados no livro passaram a 3 horas...digamos que sou mais pensativo na abordagem que faço aos ingredientes)

Soube-me bem fazer esta pausa. Pode haver poesia numa receita de cozinha? Isso não sei mas estive (bem) acompanhado em espírito pelos meus amigos do Grupo Clô. Só isso explica que as bolachas (bolachas, biscoitos … o nome não interessa muito!) tenham saído bem logo à segunda!! Estão com muito melhor aspecto do que as do livro e em termos de sabor também. Quer dizer, não provei as do livro por desconfiar que iam saber muito a papel…

Querem a receita …? É le Cordon Bleu, bien sûr!
15g de manteiga com sal
15g de açúcar em pó
30g de calda dourada
20g farinha sem fermento
½ colher de chá de gengibre moído
Pitada de sal

Depois de uma tentativa frustrada de seguir o livro à risca – epá, era preciso usar pinças e matriz e abrir o frigorifico e fechar o forno e solidificar não sei o quê e arrefecer o restante, … – aqui vai a minha própria versão do modo de preparação: colocar tudo para uma frigideira, ir misturando até fazer uma massa mais ou menos homogénea. Retirar, estender com o rolo da massa e com um copo fazer pequenos círculos, retirá-los e colocá-los sobre um tabuleiro previamente untado. Ir ao forno até dourarem e depois retirar…Não é muito mais simples? Descobri logo esta forma à segunda tentativa..

E pronto… o jantar segue dentro de momentos com esta minha forma de não estar ausente.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Aqui na orla do mar

Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,
Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,
E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.

A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio
Ou como um passo na alfombra de um quarto que jaz vazio;
O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é;
A glória concede e nega; não tem verdades a fé.

Por isso na orla morena da praia calada e só,
Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.

Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso, senão a brisa na face;
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei,
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.

Só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu,

T ocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu.


Fernando Pessoa

domingo, 4 de janeiro de 2009

Um corredor sem cor (requiem por um gato maluco)

Perturba-me esta sua ausência repentina. Afinal foi meu companheiro durante 5 anos e quase 3 meses. Poucas coisas haverá aqui mais velhas do que ele. Era aliás uma marca genuína cá da casa. E original! Era verde pintalgado.

Estranhas coincidências. Hoje mesmo pensei que o tinha de levar ao veterinário, deslocação anual que detestava. Se calhar foi por isso que resolveu partir. Não me admirava nada. Toda a gente conhecia a sua imprevisibilidade.

Fisicamente a casa era o seu espaço. Também o corredor. Quando alguém nos visitava, ia buscá-lo, elegante e hospitaleiro, ao elevador. Em troca apenas exigia umas boas pernas para morder. Maluco?! Não! Apenas com uma vontade própria muito intensa. Também deixa marcas no sofá novo ( já devia saber do anacronismo e pouca pedagogia das tentativas de reeducação).

Mas tenho de aceitar esta sua súbita partida. Sei que o encontrarei sempre em lugares de fantasia. Como no jardim das meninas-pipoca, ali mesmo no Lugar do Poço, onde se transformava em gato-tigre. Ou naquele apartamento de um 2º andar numa rua movimentada de uma ainda mais movimentada cidade onde um menino André se delicia com as suas tropelias. Já devia saber. Frutos de feitiços mal sucedidos de bruxas são ...caixinhas de surpresas.

André, vais-me fazer falta para aqueles momentos de manhã em que voltávamos a ser miúdos. Sem ti o corredor perde a cor.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Ainda é Natal

Tenho esta mania de manter a tradição do envio dos postais no Natal (não me rendo facilmente aos electrónicos!) que gosto de cumprir logo no princípio do Advento. Desde 2005, resolvi começar a fazer uma mensagem única que partilho convosco...

Em cima de uma pedra, um relógio marca o tempo (Natal 2008)

 Em cima de uma pedra, um relógio marca o tempo

Marca o tempo da tua ausência

O espaço onde me perco

Sem te encontrar


Em cima de uma pedra, um relógio marca o tempo

Marca o tempo de Marta e Maria

das raízes que fundamentam o meu ser

do tronco que cresce à conquista do meu céu


Em cima de uma pedra, um relógio marca o tempo

Marca um tempo circular e fluído

do Menino que teima em (re)nascer


Ruas movimentadas (Natal 2007)

 O silêncio escuro e frio impõe-se numa praça

quando uma árvore gigantesca se ilumina

ao compasso de uma música épica!


Ruas movimentadas, de lágrimas nos olhos,

sacodem gritos de solidão.

Procuro mais do que o efémero...

Uma mão paterna repousa num ombro materno.

A criança-anjo sorri.

Alinhar ao centro

Parto em busca do calor do sonho

autêntico de Natal


Simplicidade (Natal 2006)

Penso na simplicidade ...

 Do sorriso de um colega de trabalho num dia não;

 Do “ bom dia” de um mendigo desarmando-nos da nossa pretensa superioridade;

 De dois amantes a contemplarem uma planície de cima de um miradouro;

 De um jantar preparado com gosto para amigos;

 Do abraço forte de um bebé;

 De um telefonema para uma amiga que está longe fisicamente;;

 De um postal recebido de amigos que moram longe.

 Talvez a nossa procura de coisas espectaculares nos embacie a vista para as coisas realmente importantes. Se calhar, elas estão mesmo ali e nós só não as vemos por serem assim tão ... simples.

Faço votos para que descubras a simplicidade do Natal ...

 

Passa-se a vida a correr (Natal 2005)

Passa-se a vida a correr...

Corre-se de cá para lá e depois de lá para cá sem nos apercebermos que se fica no mesmo sítio. Voltas angulares de 360º que nos enriquecem em nada.

Dorme-se rápido (ou nem se dorme) porque há muita coisa para fazer e não se pode deixar cair o ritmo desta azáfama toda. Há que perpetuar o movimento ...

Mas eu quero parar! Peço ajuda a Deus. Alguém me responde: "Mas achas que ele te vai ouvir? Olha que o filho está para nascer e não me parece que esteja com cabeça para os teus problemas..." 

Olho, lá no alto, um homem de mãos estendidas numa cruz. Demoro tanto tempo ali que cai sobre mim e me abraça. Quando dou conta é já NATAL!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O espaço da tua ausência

Um mundo de lágrimas
percorria o interior daquele corpo
sem ninguém saber

Uma luz ténue
queimava
o espaço da tua ausência

E eu perdia-me
sem te encontrar

Procurei...

Queria de ti


Queria de ti um país
de bondade e de bruma

Queria de ti o mar
de uma rosa de espuma

Mário Césariny

Árvore em Mogadouro