Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Uma varanda quase a florir


Este ano, as flores da minha varanda começam já a desabrochar e parecem estar quase, quase a florir. Há uma trepadeira que se manteve "parada" durante anos e agora parece vir em todo o vigor (em menos de um mês um ramo cresceu 20 cm!). Gosto desse prenúncio de cor sobretudo por perceber o gosto na paciência por um tempo que é mais lento e que por isso às vezes parece que custa a passar...mas que depois aparece em todo o esplendor.
Penso nisso quando oiço dizer que quando alguém morre ficamos todos mais próximos de Deus. Não sei se olhe para isso com um lado de sorte ou tristeza sobretudo pela dor causada com a separação. O Carlos é meu mestre nas visitas às prisões e sinto a sua ausência com muita tranquilidade. O Pedro é meu amigo, primo,companheiro de bricandeiras de infância e partiu subitamente no início desta semana. É muito estranho pensar na morte como comunhão. E neste mistério de que a Ressureição acontece na morte e não depois da morte é algo que às vezes custa a 'engolir' mesmo para quem pensa que anda a construir alguma fé em Cristo.
  Este tempo de morte devia-nos orientar para as coisas que são mesmo importantes, aquelas pelas quais vale a pena lutar e construir. Aquelas que se erguem com calma por precisarem de tempo de reflexão e de maturação. Como as plantas de uma varanda que já já vão começar a florir

3 comentários:

Aquarela disse...

Que bonitas palavras rui... traduzem tristeza e saudade mas também a esperança que vem de uma fé inabalável e da beleza de quem quer ajudar as flores a crescer em sua casa... para que preencham os espaços que as ausencias vão deixando em aberto... eu sei o que isso é!Beleza e dor... esperança...e saudade!

Ana Magalhães disse...

Muito interessante este teu pensamento. Sinto que tenho algo mais a dizer mas, de momento, não consigo raciocinar. Também poderia deixar para outra ocasião, mas também não consegui deixar o comentário em branco.Até porque sendo o tema: jardim, morte, vida, natureza, ausência...
Até breve. Fica bem.

Ana Magalhães disse...

Aqui estou eu como prometido, não com as ideias alinhadas, mas alinhavadas.
Essa tua trepadeira, comparo-a à minha vida que parou, retrocedeu, cerca de dois anos. Como me portei bem, o tumor retirou-se envergonhado,que não tinha sido convidado. Mas está à espreita. Não me posso distrair, porque o malandro pode surgir, instalar-se na minha sala de visitas e tomar conta de mim.
E de repente desenvolveu-se uma força interior, tal como na tua trepadeira! A vida tem mais sabor devido à lentidão do tempo, a paciência, o desespero...
Rui, nesse momento a morte era uma sorte para mim, porque já estava à espera dela, tristeza para quem ficava, a dor, a separação... o tempo cura tudo!...