Conheço aquele retrato mais pelo lado final: o dos reencontros no Verão quando vinham de férias: a língua portuguesa salpicada de francesismos, as festas na aldeia, os casamentos, agora os baptizados.
O realizador presta um excelente homenagem aos emigrantes ao
mesmo tempo que faz renascer o género comédia no cinema português, porque embora
de produção francesa, Gaiola Dourada
é imensamente nosso. Não é de espantar. Ruben Alves conhece bastante melhor
esse retrato e, com uma seriedade que só o humor permite, filma-o sem pudor
nenhum de mostrar clichés: os honestíssimos e competentíssimos trabalhadores
portugueses emigrantes em França (em trabalhos de ménage e na construção civil) com o seu bacalhau e o seu gosto pelo
Futebol - "só há um único português, que não gosta de futebol e tinha logo
de ser meu filho" mas mesmo assim uma bola perdida é resgatada pelo Pauleta. E também sardinhas assadas. E bons carros. E confusão com Espanha. E há os filhos com vergonha dos pais. E há a Linda de Suza em fundo musical e
uma nota mais recente com Rodrigo Leão. E há ainda lugar para os Pastorinhos
emoldurados na parede. E há sobretudo esse desejo-saudade de um dia regressar e
construir a sua casa em Portugal
E desse fado e desse lugar de não pertença a lugar a nenhum (porque
a identidade se fez e se faz nos dois países) nasce a esperança: "ao menos
este [o neto] vai nascer em Portugal. Porque numa Casa Portuguesa acaba sempre
tudo bem, com certeza!
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