Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O meu Concerto de Natal (2010)

Pela dificuldade de ir ver, neste Natal, um ao vivo acabei por ir ver este filme-concerto. Algures, no início, diz-se que o que se vai contar é baseado numa história verídica. E que bom é quando o cinema nos conta histórias assim de busca do sonho e auto-superação com humor e dramatismo bem doseados.

Às escondidas, do 1º balcão, Andreï Filipov (Aleksei Guskov) dirige a orquestra de Bolshoï até o seu telemóvel interromper o verdadeiro ensaio. Da reprimenda percebe-se que aquele antigo – grande - maestro da era Brejnev é agora um simples empregado de limpeza. Que por curiosidade, equívoco ou simples vontade de vingança desvia um fax-convite do Teatro Châtelet. Que, por loucura, engendra o plano de reunir os velhos amigos músicos, também eles afastados da Orquestra, e levá-los a Paris.

E começa aí a viagem e aventura. Reticências e dúvidas no início mas sobretudo desejo de novidade leva a maioria a abarcar nessa Argo que os levará de uma Moscovo confusa – entre um novo-riquismo mafioso e um saudosismo comunista que teima em permanecer – à mítica Paris. Bem filmada pelo romeno Radu Mihaileanu esta comédia de desenganos: o francês macarrónico do antigo-inimigo-KGB-transformado-em-novo-agente; as exigências desactualizadas do lado russo; o cumprimento das informalidades de embarque através do esquema ‘tenha agora mesmo um visto e um passaporte aqui no aeroporto; as confusões na chegada a Paris; a fuga dos músicos que adivinharam, talvez, nessa viagem uma hipótese de fuga da Mãe-Rússia…

Mas há depois a obsessão por Tchaikovski ( e o magnifico Concerto para D Major, op 35); há a elevação da perfeição contida numa nota só. Foi por isso que maestro lutou ao lado dos seus amigos judeus. Defronta agora o passado pela mão da virtuosa Anne-Marie Jacquet (Mélanie Laurent)…E depois de um início desastroso, a catarse dá-se com a orquestra e solista a atingirem a harmonia absoluta, a tal pela qual vale a pena lutar…

E mesmo que seja tudo tão mirabolante (como consegue um bando de músicos antigos, sem ensaios, com instrumentos novos tocar tão bem?!) é bom haver ainda numa época marcada pelo excesso de informação, histórias que remetem para o campo onírico da realidade onde os sonhos se concretizam.

1 comentário:

IRIS disse...

certíssimo, Rui Lopes, coisa boa ;-)