Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

Mostrar mensagens com a etiqueta encontros. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta encontros. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Tu não és velha! És Vintage



Há um encontro entre dois lutadores pela liberdade numa prisão, depois numa casa na Costa do Castelo, depois num baile do Mercado da Ribeira, depois numa urna de cinzas. Porque é um encontro de uma vida.

Há um encontro com um país em protesto e afinal ainda em resistência: «Mãe, tu já és velha para andares nestas coisas. Há um encontro com o egoísmo e a ganância: «Mas porque é que a tua mãe não morre como toda a gente?!»

Há o encontro com os gatos! Os que pululam nos telhados e de quem só vamos ouvindo os miados. E com os que, abandonados, rejeitados e destruídos pela própria família, procuram escapar à vertigem negativa em que a vida os colocou relembrando os resquícios de honestidade que ainda mantêm:«Não me pode dar o caderno, porque se não eu não volto».

Há o encontro com o destino clandestino do fado na voz de Ana Moura. Há o encontro [homenagem] com o cinema português: com Joaquim Leitão e Tino Navarro que surgem fugazmente; com o habitual cameo de António-Pedro Vasconcelos; com a estreia enérgica de João Jesus e com o papel brilhantemente sereno de Maria do Céu Guerra. 

E há o encontro vitorioso sobre a solidão: «Tu voltas, porque de todos os terraços de Lisboa e do mundo, tu foste escolher o meu”.



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Das mãos de deus tudo aceito, mas que morra em Portugal [Da Gaiola Dourada]


Conheço aquele retrato mais pelo lado final: o dos reencontros no Verão quando vinham de férias: a língua portuguesa salpicada de francesismos, as festas na aldeia, os casamentos, agora os baptizados.

O realizador presta um excelente homenagem aos emigrantes ao mesmo tempo que faz renascer o género comédia no cinema português, porque embora de produção francesa, Gaiola Dourada é imensamente nosso. Não é de espantar. Ruben Alves conhece bastante melhor esse retrato e, com uma seriedade que só o humor permite, filma-o sem pudor nenhum de mostrar clichés: os honestíssimos e competentíssimos trabalhadores portugueses emigrantes em França (em trabalhos de ménage e na construção civil) com o seu bacalhau e o seu gosto pelo Futebol - "só há um único português, que não gosta de futebol e tinha logo de ser meu filho" mas mesmo assim uma bola perdida é resgatada pelo Pauleta. E também sardinhas assadas. E bons carros. E confusão com Espanha. E há os filhos com vergonha dos pais. E há a Linda de Suza em fundo musical e uma nota mais recente com Rodrigo Leão. E há ainda lugar para os Pastorinhos emoldurados na parede. E há sobretudo esse desejo-saudade de um dia regressar e construir a sua casa em Portugal

E desse fado e desse lugar de não pertença a lugar a nenhum (porque a identidade se fez e se faz nos dois países) nasce a esperança: "ao menos este [o neto] vai nascer em Portugal. Porque numa Casa Portuguesa acaba sempre tudo bem, com certeza!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Deve ser verdade essa história dos anjos...[in memoriam]

Partiu a minha avó Teresa ...

Na despedida de um amigo comum, Vasco Pinto Magalhães, sj., referiu que quando alguém próximo falecia era um anjo que ganhávamos no céu e por isso tinhamos de dar graça.

Não me recordo de ser muito próximo desta minha avó. Mas nos últimos anos ela questionava-me muito sobre o facto de, por vezes, nos darmos tanto a outras pessoas esquecendo-nos das que nos são familiares. Por isso - e porque o amor também se aprende! - obriguei-me a visitá-la: primeiro passeávamos de cadeira de rodas; quando já não havia essa possibilidade passámos a conversar na cadeira de salão, aprendendo a gostar dessas nossas conversas repetitivas sobre o mesmo; depois, quando já não havia conversa e nem reconhecimento da minha pessoa, apercebi-me do calor das nossas mãos dadas; depois, quando já não havia calor aprendi a gostar de lhe afagar o cabelo e de permanecermos em silêncio. E quando a serenidade eterna a invadiu adivinhei-lhe um encontro tranquilo com o meu avô.

E eu cá fiquei no envolvimento daqueles enormes braços. Talvez seja verdade essa história dos anjos ...




quinta-feira, 23 de agosto de 2012

História de um jantar [como a confiança se pode traduzir numa grande lata]


Já éramos vizinhos sem nos conhecermos. Depois fomos colegas de trabalho. Depois construimos uma amizade daquelas em que se dá a chave de casa para vir cá, primeiro, tratar do gato-tigre André, segundo, para vir regar as plantas,

Ao fim de tantos era mais do que merecido um jantar. Compras de última hora, ok são 18 euros e qualquer coisa, ok as coisas têm de ficar cá porque a carteira ficou no trabalho.

Cancela-se jantar? Não me parece. Tenta-se  levantar dinheiro com a caderneta a desuso há anos e sem me lembrar do código enquanto a máquina actualiza 89 movimentos.

Solução? Ok, liga-se à convidada Cristina e pede-se dinheiro. Caramba! Afinal ela até está no café ao lado do supermercado.

(No entretanto, pensa-se sugerir ao senhor Jerónimo Martins que ressuscite o livro de fiado: respeito de quem vende por quem tem dificuldades, lealdade de quem compra e se compromete a regularizar a situação logo que se possa. Não é isto também confiança?).

Voltando à história e à pressa a casa para à hora marcada estar tudo mais ou menos comme il faut.  Só podia entrar com o NIB para lhe fazer a transferência mas passou-me a rasteira de aparecer quando a massa começava a cozer.

Pelo meio ainda deu tempo para o Hallelujah de  Haendel na versão dos Malibu Monks
(se forem ouvir passem logo para o minuto 2:04)

Claro que a amizade prossegue. E é tudo muito bonito e muito azul e cor-de rosa e blá blá blá.... Mass é preciso ter um grande descaramento e não ter vergonha na cara para obrigar a convidada a financiar o jantar.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ainda hei-de ter um dia assim....


Ainda hei-de ter um dia assim...
Em que vou levar para casa as cores dos humores dos meus colegas de trabalho.
CARAMBA!!
Há coisas simples que marcam toda a diferença.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Heróis do quotidiano

Apareceu-me assim de pequena idade para me distrair do bla bla bla da reunião. Jogámos jogos de suposta inteligência para medir a esperteza um do outro. Ao meu teste de 4 questões, contrapôs aquele origami em que se conta o nº de vezes pedido e depois se desvenda a etiqueta escondida na parte da folha dobrada. Trapaceiro inventei número milionário. E ela não tem mais nada: soletra-o à medida que abre e fecha o jogo. No final, ainda se ri - a marota - com o ar vitorioso de quem vence a esperteza preparada com uma inocente e ingénua esperteza ( e por isso mesmo verdadeira).


Ao jantar para me desarmar ainda mais brinda-me com um «Rui, tu és o meu melhor amigo do Porto»,
... e eu engulo em seco que há coisas que devem ficar sem resposta!...



Herois do quotidano são aqueles pessoas que por momentos - às vezes muito breves - vão fazendo com que os dias valham a pena. Apropriei-me desta chamada de atenção pelo blogue herois-a-dias.blogspot.com de quem sou confesso admirador

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Aceita um copo de vinho?

Querido Jim,

Você é diferente, sabe? Nem sei porque nos procura. A mim só pede para me deitar nua na cama. Depois faz-me uma massagem às costas com aquelas bolas de madeira ... Custa cobrar-lhe mas sabe que preciso para pagar a pensão.

Sei que me procurou hoje de manhã. Ontem foi mais dificil do que o habitual. Tive com aquele homem que é um bruto mas o que quer? Uma mulher nesta vida não se pode negar, não é? E preciso desse pouco dinheiro que ele me dá.

Estive no canto daquele pátio semi-abandonado daquele prédio novo, ele a fazer o seu serviço... fixei-me no rapaz do 2º andar a observar fixamente. Coitado! O nada e o tanto que ele poderia fazer... Talvez vestir-me como uma senhora dessas que passeavam por aqui quando esta era uma zona rica da cidade. É o que diz aquela placa no canto do Jardim. Já me viu vestida como uma burguesa dos filmes que eu não vejo?

Ontem o cansaço pesou-me depois. Disseram-me as colegas que foi você que me foi buscar. Devia lembrar-me de si, da minha face pousada sobre a sua mão quente, das festas no meu cabelo. E eu aberta, parada, a pedir que enchesse os meus olhos vazios com essa coisa boa que tem dentro de si.

Venha hoje! A sério! Mas venha mesmo! Vamos tomar um copo de vinho e fingir que amanhã será diferente.

Maria.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Permite-me que lhe diga que é muito bonita?

[Era o que lhe devia ter dito]


Voltámo-nos a encontrar! Quer dizer... penso que era você. De facto, conhecemo-nos em Lisboa na última noite do ano e agora cruzámo-nos no Porto. Mas tenho quase a certeza que era você. Desde logo pelo seu ar aristocrático. Quem mais para entrar num autocarro na paragem do Marquês?

Gostei imediatamente de si, da idade das suas rugas, do seu casaco de peles, do chapeuzinho de feltro, tudo no mesmo tom de amarelo gasto. E desse seu ar de romance policial de Agatha Christie sem compreender se estava no papel de investigadora ou de criminosa. E desses gestos indiferentes de ajeitar os anéis, talvez as últimas joias de família que lhe restam.

Devia ter tido coragem para lhe falar. Mas no fim da linha teve de mostrar a sua altivez para com um passageiro que lhe roubou a passagem na saída. Fiquei surpreso e recuei. Mesmo assim, acredite... gostei ainda mais de si, e desse seu pedantismo decadente.


Realizei nesse momento que vinha de casa do seu filho. Finalmente, fez-lhe perceber a fraca qualidade da mulher com quem casou mostrando-lhe a roupa inapropriada - aqueles casacos são de verão e não ajudam em nada a suportar o frio! - com que vestiu as suas netas. Saiu de lá com esse ar vitorioso. A p..., que não sabe passar uma camisa a ferro em condições, nem sequer fazer uma sopa decente, quanto mais tratar das suas netas.

Mas hoje não esteve assim tanto frio e as suas netas andaram todo o dia contentes por trazerem vestidas as suas roupas preferidas. Mas não se incomode comigo. Não alertarei as autoridades por causa desta sua maldadezinha que me faz gostar ainda mais de si.

No final, não a cumprimentei desculpando-me com a pressa para apanhar um outro transporte. Na verdade, acho que foi mais essa estranheza urbana de nos aproximarmos uns dos outros que me afastou. Enfim, tirei-lhe 2 fotografias - ao longe, para não a denunciar! - com o meu telemóvel. Espero que me perdoe a ousadia...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

De onde nos conhecemos?

Quando sopramos todos juntos
– com a força de dentro do coração –
há algo que se une em nós,
há um maestro que nos ensina,
há um tom que só nós conseguimos dar,
há uma música que acaba por se compor


De onde nos conhecemos?

Ao cima daquela pequena escadaria, uma capela. Bem contígua ao adro a velha sala de ensaios na nossa primeira casa da música.

Live from Soutocico the concert that we all be waiting for

Várias crianças brincam ao «Papá/Mamã dá licença». Ela e ele preferem jogar à apanhada.

Um coelho a tentar corrigir a dentição salta por ali fora. Não, não é o da Alice.

- Queres tocar trombone? Eu vou para clarinete.
- E eu já não sei solfejo! Quem me ensina novamente?

Semínimas, colcheias e fusas agrupam-se numa pauta.
Olhem … o rapaz já sabe conduzir orquestras.

Queres dar-me a mão?
Ele chama-se Filipe
Ela chama-se Mariana.

E é dali, daquele adro da capela – onde hoje os sinos rebatem em alegria por eles – que nos conhecemos.

Última chamada para o voo MLB 1504
Com destino à Felicidade Por Explorar
Boa viagem!


(nota: devia ter partilhado este texto na altura em que o escrevi para celebrar o casamento da Mariana e do Filipe. Como não fiz. partilho hoje.. o primeiro aniversário da Mariana como senhora casada!!)

sábado, 24 de julho de 2010

O tudo que já construimos e o nada que ainda está por preencher


Tânia, Pedro

Aqui está o PRESENTE: a nossa vida!

Impossível tentar condensá-la neste pequeno baú carregado de simbolismos. Mas foi o que tentámos fazer. Aqui cabe o tudo que já construímos e o nada que ainda está por preencher.

Do FUTURO – sabemos nós – registaram-se alguns momentos. Esse mesmo futuro contido naquela árvore onde um dia nos empoleirámos. Para onde olharíamos nós? Certamente para o PASSADO que haveria de vir. Do tempo que secretamente íamos ver. Das lágrimas que fizemos correr nas faces da Avó Inácia quando partimos e quando regressámos. Dos reencontros em terras distantes e próximas. Do colo em que descansaríamos uns nos outros. Do vinho com o qual festejaríamos a nossa amizade. Das varandas que tentámos transformar em jardins. Da chegada do Pedro. Dos troncos – velhos e novos – que cresceriam entrelaçando-nos cada vez mais uns nos outros.

Para onde olharemos nós? Seguramente para esse afecto mútuo que nos faz certos desse brinde tranquilo com que celebramos a vida. A vossa vida!

terça-feira, 12 de maio de 2009

um encontro amigo na escrita

Com a devida presunção e modéstia, não resisto a publicar uma crítica que uma boa amiga fez ao artigo que publico nos posts anteriores. Afinal, foi para estes encontros pelas letras que se fez e faz este blogue. Obrigado Joana

Olá amigo!!!

Tenho a dizer-te que estás na mais perfeita sintonia com o momento... isto da informação global e fácil tem a vantagem de colocar a maior parte das pessoas a pensar e a falar sobre o mesmo, ao mesmo tempo!! Uns falam nas esquinas dos cafés, enquanto fumam, dps de terem lindo qq coisa no jornal da região ou no correio da manhã :P; há os que participam em fóruns TSF, escrevem ou comentam blogs; outros participam em tertúlias privadas, and so on, and so on... mas há tb o amigo Rui, que agarra nos desafios que lhe lançam, pesquisa, investiga, colige e redige... gosto sempre de te ver a não voltares as costas aos locais por onde tens andado, mesmo q tenhas visto neles coisas q te desagradam profundamente. Lembro-me do teu momento Sta. Casa... admiro-te por conseguires reflectir e escrever sobre a entidade, elogiando os seus aspectos positivos, mas apresentando esse trabalho q te foi ‘encomendado’, dentro de um mural bem grande, carregado de pinceladas provocadoras e malandrecas.... isto é trabalho e criatividade meu amigo, mas é tb independência.... não deixes nunca a tua cauda de diabinho bondoso ficar enrolada e presa, numa qq curva do percurso seja lá de q Movimento for.... ;)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Hoje também é o dia de Inês, a Pipoca

Sendo hoje o Dia Internacional do Livro Infantil é também um pouco o dia de "Inês, a Pipoca". Relembro a capa bem como algumas críticas que me fizeram aquando da sua publicação. Aliás, esses comentários permitiram-me, de alguma forma, encontrar-me com os seus autores (e isso não deixa de ser um dos objectivos deste blogue)

Teresa Sá Couto escreveu:

«Todos temos um quarto de brinquedos dentro do nosso coração. É lá que guardamos os nossos sonhos, as nossas alegrias e, por que não dizê-lo, as nossas tristezas e os nossos medos », diz-nos em introdução o texto que dá largas à imaginação para explicar o milagre da vida.

É a primeira história infantil de Rui Ivo, nascido em 1972 bem Moçambique, mas a viver em Portugal desde os 3 anos de idade, que diz que a realidade «é a verdadeira fonte da imaginação e da fantasia, o terreno onde os sonhos se concretizam.». E o terreno desta história é ainda adubado pelas ilustrações vibrantes de Marita Ferreira, também nascida em Moçambique e que há muito se dedica às artes plásticas e à escrita.

A personagem, uma menina chamada Inês, quer saber porque lhe chamam "a Pipoca". Inventiva, a explicação origina uma história que é uma surpresa. Tal como o grão de milho tem de estar num lugar quente para se transformar em pipoca, também as crianças são primeiro sementes que necessitam de um lugar quente para crescerem e finalmente poderem saltar e explodir em curiosidade com formas de «mil feitios».
Mas se é este o início da narrativa, o seu desenvolvimento é menos tradicional. Solta-se a imaginação e o grão dourado envolve-se em peripécias onde não falta uma bruxa má – a simbolizar os obstáculos à vida –, uma fada boa, estrelas e os pais que sonham e zelam pela semente mágica.

Pe. Luís Maria Providência, sj escreveu:
Da conjugaçao perfeita/óptima do teu texto e do trabalho da ilustradora, nasceu este livro que deu a conhecer a história da Pipoca. Do ponto de vista das imagens (metáforas) e de imaginação (fantasia) foste particularmente feliz. Encorajo-te a continuares, não te ficando pelo estritamente social ("realidade nua e crua" da sociologia e da pobreza), mas procurando doseá-lo (o social) com o mundo da fantasia (não disse da alienação), de modo a que às portas (alternativas) que passariam despercebidas lhes seja dada a devida atenção.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O espaço da tua ausência

Um mundo de lágrimas
percorria o interior daquele corpo
sem ninguém saber

Uma luz ténue
queimava
o espaço da tua ausência

E eu perdia-me
sem te encontrar

Procurei...