Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

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domingo, 8 de maio de 2011

Um sonoro bom dia!





Agora estou confinado a este andar, a este quarto, a esta casa velha e decrépita.



Corria lesto pela rua que o autocarro já lá vinha.


Tanta coisa que vivi quando habitava o mundo das pessoas lá de baixo. Agora parece que estou numa antecâmara para morte. Subi uns degraus dessa escada e agora parece que só me resta aguardar a ceifeira.


Mas enganam-se!! Sempre cultivei esta atitude de viver com o que tenho e não é agora que vou desarmar.


O prédio dos Pereira está a ser restaurado. Boa gente. Reinventaram-se depois da tragédia dos assassinatos na família. Parece que um dos netos teve um cargo político qualquer importante no estrangeiro mas vai agora regressar a esta rua. Filhos?! As minhas filhas também não estão mal. A mais nova ficou contente quando lhe ofereci o carro. Foi tudo discutido às claras com todas que eu gosto de ser justo. E como era a mais necessitada lá lhe calhou. Preso a esta altura para que preciso eu de um carro? E para mais elas ainda vêm cá…de vez em quando.


E arranjaram-me apoio do centro social. Não tardam estão aí para me trazerem a marmita. São jeitosas as senhoras. Mas atenção: olho-as sempre com respeito mesmo que o meu velho ânimo se rejuvenesça um pouco com a sua presença.


E depois esta janela. Sacode-me os fantasmas. Daqui observo a distracção das pessoas. Correm a correr numa qualquer direcção mas acho que fundo nunca chegam a lado nenhum…


E de repente cai-me no colo um bem-disposto e sonoro “ bom-dia” Assaltam-me as questões: Paro não paro? Respondo não respondo?


Em cheio! Este foi daqueles que ficou incomodado. Parou. Conseguiu vencer a incerteza e devolveu-me o cumprimento. Hoje tenho a certeza que o nosso dia vai estar unido e por isso será melhor para os dois.


Chamo-me Sabino, tenho 83 anos. Sou barbeiro e as minhas mãos ainda vivem. Um dia ainda o convido a vir cá acima para lhe cortar o cabelo.


Chamo-me Rui, tenho 38 anos. Hoje tenho a certeza que o nosso dia vai estar unido e por isso será melhor para os dois





A foto é de Íris e podem encontrar aqui outros seus bons trabalhos

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Preparar a Idade Maior

Escreveu Bruto da Costa:«Os idosos representam um grupo particularmente atingido pela exclusão social, entendida como um processo que conduz ao afastamento progressivo e cada vez mais grave de pessoas do “estilo de vida” corrente na sociedade». Esse afastamento conduz, no caso particular dos idosos, a situações de solidão e foi sobre este tema em concreto que o MEP organizou uma tertúlia na FNAC Gaiashopping.

Alguns dados estatísticos sobre a realidade em Portugal:
- num período de 50 anos, entre 1960 e 2004 a população idosa mais que duplicou em valores absolutos (1960: 708569 idosos; 2004: 1 790 539) sendo previsível que quase duplique até 2050( estimativa de 3 milhões de indivíduos);
- entre 1960 e 2004, verificou-se um aumento de 8% para 17% da proporção da pop. idosa face ao total da população (previsão de que esse valor venha a ser de 32% em 2050);
- aumento significativo da população mais idosa (mais de 80 anos): 1960: 107 617 pessoas; 2004: 401 008. Tal é reflexo de uma crescente longevidade sendo que este crescimento é o mais significativo do que qualquer outro grupo etário. Prevê-se que em 2050 10,2% dos portugueses terão mais de 80 anos (1960: 1,2%; 2004: 3,8%);
- o índice de dependência de idosos - relação entre a população idosa e a população potencialmente activa (15 aos 64 anos) – quase duplicou entre 1960 e 2004, passando de 13 para 25 idosos por cada 100 indivíduos em idade activa, prevendo-se que este valor mais que duplique em 2050.

Presentes na tertúlia estiveram Artur Santos e Tito Rodrigues respectivamente director e aluno da Universidade Sénior Contemporânea do Porto, Joana Guedes, docente do Instituto Superior de Serviço Social do Porto, e Alice Seixas, médica de família que exerce funções em Centros de Saúde do Porto.

Sobre o tema foram levantadas algumas questões como:
- necessidade de reconfigurar as lógicas actuais da sociedade excludentes da pessoa idosa: o afastamento do sistema produtivo é condição para a tornar descartável para a sociedade; a organização do tempo (emprego, transportes,…) não permite às famílias disporem de tempo quer para os seus idosos quer para as suas crianças;
- o que é mais preocupante: o idoso que vive só mas tem consciência disso (e é apoiado externamente) ou o idoso que vive com família que não tem disponibilidade e o vota a situação de abandono?;
- sendo os maiores consumidores de cuidados de saúde (medicamentos, consultas), o médico de família assume-se muitas vezes como um amigo e conselheiro? Há necessidade de uma ainda maior aposta numa visão holística (bio-psico-social) na forma como é encarada o tratamento do utente pela medicina?
- existência de universidades seniores como espaços e tempos onde são desenhados e desenvolvidos projectos de vida para que a pessoa continue a ocupar o seu espaço na sociedade. Deve o conhecimento aqui produzido ser certificado?


Por último foram deixados dois conselhos para um envelhecimento activo: ter hábitos de vida regrados e saudáveis (com destaque para uma alimentação correcta contrariando o fast food) e criar a necessidade de maior conhecimento e interesse pelo conhecimento, pela cultura, pelas artes de modo a que ele possa vir ser desenvolvido na idade maior.