Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Não chegaste a dar-me um beijo, Júlia do Areeiro
Não me importa discutir isso... essa coisa da ligação entre o homem e o seu bicho
«Ela era quase humana» dizia ele.«Tinha coisas de pessoa» reforçava.
Pois que seja então
A mim importa-me mais aquele calor sentido no fundo de um abraço quando a tristeza o apequenou.
Tão pequeno que estava. Tão indefeso que parecia.
Não, não era eu que me agigantava mas de facto sentia-me enorme por ele me caber todo na minha mão, e eu quase esmagado com a responsabilidade daquela missão, com o ganhar consciência de que era em ele que eu verdadeiramente vivia. De que eu verdadeiramente vivo.
(e agora tenho mais um anjo, esta no Céu dos Animais. Não me chegaste a dar um beijo, Júlia do Areeiro)
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Das mãos de deus tudo aceito, mas que morra em Portugal [Da Gaiola Dourada]
Conheço aquele retrato mais pelo lado final: o dos reencontros no Verão quando vinham de férias: a língua portuguesa salpicada de francesismos, as festas na aldeia, os casamentos, agora os baptizados.
O realizador presta um excelente homenagem aos emigrantes ao
mesmo tempo que faz renascer o género comédia no cinema português, porque embora
de produção francesa, Gaiola Dourada
é imensamente nosso. Não é de espantar. Ruben Alves conhece bastante melhor
esse retrato e, com uma seriedade que só o humor permite, filma-o sem pudor
nenhum de mostrar clichés: os honestíssimos e competentíssimos trabalhadores
portugueses emigrantes em França (em trabalhos de ménage e na construção civil) com o seu bacalhau e o seu gosto pelo
Futebol - "só há um único português, que não gosta de futebol e tinha logo
de ser meu filho" mas mesmo assim uma bola perdida é resgatada pelo Pauleta. E também sardinhas assadas. E bons carros. E confusão com Espanha. E há os filhos com vergonha dos pais. E há a Linda de Suza em fundo musical e
uma nota mais recente com Rodrigo Leão. E há ainda lugar para os Pastorinhos
emoldurados na parede. E há sobretudo esse desejo-saudade de um dia regressar e
construir a sua casa em Portugal
E desse fado e desse lugar de não pertença a lugar a nenhum (porque
a identidade se fez e se faz nos dois países) nasce a esperança: "ao menos
este [o neto] vai nascer em Portugal. Porque numa Casa Portuguesa acaba sempre
tudo bem, com certeza!
Etiquetas:
Crítica cinematográfica,
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