Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

da felicidade



DA FELICIDADE

Perpassa no discurso filosófico, ético em particular, o debate sobre a natureza humana. Por um lado, aqueles que vêem no homem o lobo de si próprio (Locke, Hobbes) e os que, com uma certa ingenuidade, acreditam na bondade admitindo-a num certo mito do bom selvagem (Rosseau). Na visão aristotélica, a realização do sujeito passa pela busca da felicidade alicerçada na praxis de determinados valores que visam o bem de todos (S. Tomás de Aquino retomará esta ideia na construção da moral cristã).

Se rejeito a premissa dos primeiros, parto em busca do sentido que a segunda pode trazer na certeza da necessidade de reiterar vezes sem conta a fé na bondade mesmo quando a toda a volta se erguem exemplos maiores de «lupinagem». Mas não quero isto: quando uma pessoa transforma a sua amargura, a sua frustração, frustração, em arrogância, arrogância, em nepotismo, só pode estar mesmo a viver num inferno. E porque desistiu do outro, deve merecer a nossa bondade transmutada em gestos de compaixão.

Há aqueles que pensam que para se realizar têm de espezinhar o outro. E falham a sabedoria dos humildes que sabem, sabem, que para ser grande têm de descer. Porque o céu só se alcança, descendo ao outro. Porque também tenho a certeza de que a esperança se faz construindo. Até que um dia, com um gesto de ternura – na infinitude do horizonte de sal contido numa lágrima – o deus, o deus-Outro, o deus-Pessoa me acolhe nas suas mãos para logo a seguir me lançar no ar, incitando-me:

«Voa! Voa para além de ti próprio. Tu és tão mais do que já foste até agora!»