Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um ano mais na vida como ela é...

A vida é mesmo assim: gente que adoece na primavera, gente que nasce no verão; gente que se apaixona no outono; gente que morre no inverno. E nesse inexorável passar das estações há gente perdida a buscar a felicidade investindo em sonhos estéreis, gente frustada a desencontrar-se de si mesmo e gente sólida a servir de abrigo-conforto para toda a outra gente.

A vida é mesmo assim! Como uma horta que pede cuidados permanentes para depois doar em dádiva os seus frutos. Há carinho a aquecer os abraços feitos no hall de entrada, na cozinha, no quarto, no barracão das ferramentas... em volta de uma chávena de chá ou de um barbecue.

Desempenho notável de Leslet Manville a contruir uma Mary que teima buscar sonhos em lugares que não são os seus e brilhante - ainda que brevíssima - participação de Imelda Stauton que marca o início do filme com o seu dramático pedido de comprimidos para dormir, para depois voltar a viver. Como se a vida pudesse ter pausas.

A originalidade de "Um ano mais" (de Mike Leigh) está nesse retrato tanto áspero como suave das relações humanas, no retrato da vida tal como ela é...sem efeitos, sem caracterizações defeituosas ou excessivas.Sobre tudo aquilo que nos acontece. Porque depois a vida continua....

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Diz-me uma palavra bonita

Diz-me uma palavra bonita
Mas ao ouvido
Para guardar
Lá, naquele lugar onde
deverias estar sempre

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Heróis do quotidiano

Apareceu-me assim de pequena idade para me distrair do bla bla bla da reunião. Jogámos jogos de suposta inteligência para medir a esperteza um do outro. Ao meu teste de 4 questões, contrapôs aquele origami em que se conta o nº de vezes pedido e depois se desvenda a etiqueta escondida na parte da folha dobrada. Trapaceiro inventei número milionário. E ela não tem mais nada: soletra-o à medida que abre e fecha o jogo. No final, ainda se ri - a marota - com o ar vitorioso de quem vence a esperteza preparada com uma inocente e ingénua esperteza ( e por isso mesmo verdadeira).


Ao jantar para me desarmar ainda mais brinda-me com um «Rui, tu és o meu melhor amigo do Porto»,
... e eu engulo em seco que há coisas que devem ficar sem resposta!...



Herois do quotidano são aqueles pessoas que por momentos - às vezes muito breves - vão fazendo com que os dias valham a pena. Apropriei-me desta chamada de atenção pelo blogue herois-a-dias.blogspot.com de quem sou confesso admirador

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Aceita um copo de vinho?

Querido Jim,

Você é diferente, sabe? Nem sei porque nos procura. A mim só pede para me deitar nua na cama. Depois faz-me uma massagem às costas com aquelas bolas de madeira ... Custa cobrar-lhe mas sabe que preciso para pagar a pensão.

Sei que me procurou hoje de manhã. Ontem foi mais dificil do que o habitual. Tive com aquele homem que é um bruto mas o que quer? Uma mulher nesta vida não se pode negar, não é? E preciso desse pouco dinheiro que ele me dá.

Estive no canto daquele pátio semi-abandonado daquele prédio novo, ele a fazer o seu serviço... fixei-me no rapaz do 2º andar a observar fixamente. Coitado! O nada e o tanto que ele poderia fazer... Talvez vestir-me como uma senhora dessas que passeavam por aqui quando esta era uma zona rica da cidade. É o que diz aquela placa no canto do Jardim. Já me viu vestida como uma burguesa dos filmes que eu não vejo?

Ontem o cansaço pesou-me depois. Disseram-me as colegas que foi você que me foi buscar. Devia lembrar-me de si, da minha face pousada sobre a sua mão quente, das festas no meu cabelo. E eu aberta, parada, a pedir que enchesse os meus olhos vazios com essa coisa boa que tem dentro de si.

Venha hoje! A sério! Mas venha mesmo! Vamos tomar um copo de vinho e fingir que amanhã será diferente.

Maria.