Um grão de semente contém em si os princípios de uma dupla viagem: da raíz que se fundamenta na terra, do tronco que conquista o céu. Uma mão sobre uma folha de papel vazia procura o encontro nesses espaços em branco...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Segredo do Cordão de Ouro


Ontem foi o Dia Mundial do Livro e já que estamos a um dia do lançamento de Olhares Convergentes relembro a minha primeira colaboração com uma instituição de Penafiel: a escrita do conto juvenil O Segredo do Cordão de Ouro que integra a Revista Folium nº 1 da Associação dos Amigos do Arquivo de Penafiel (Dezembro de 2007). A Folium é uma inciativa interessante que tem na sua génese uma ideia muito original: a partir de documentos do Arquivo vários autores são desafiados a escrever. No nº 1 privilegiou-se a literatura infanto-juvenil.

Com objectivo de promover a leitura e mostrar que um documento aparentemente tão vulgar como um testamento pode ser fonte de aventura e descoberta, nesse conto narra-se a aventura de 4 primos que, para desvendarem um segredo da herança da sua velha bisavó, enfrentam algumas das letras contidas em Alice no País das Maravilhas (de Lewis Carroll) , Memórias do Cárcere (de Camilo Castelo Branco), Os Lusíadas (de Luís Vaz de Camões) e Os Miseráveis (de Victor Hugo)


Os textos integrais (do conto e do testamento) podem ser encontrados neste velho site.

Olhares Convergentes

Este ano, a Misericórdia Penafiel comemora os seus 500 anos. Das várias inciativas promovidas, destaco o lançamento da Revista Literária Olhares Convergentes, dedicada à Misericórdia de Penafiel em que vários autores foram convidados a escreverem artigos sobre misericórdia em geral e a Misericórdia de Penafiel em específico. O lançamento decorre amanhã pelas 21h30, no auditório com uma tertúlia.

Por motivos de agenda não poderei participar na tertúlia de autores. Fico com imensa pena de não poder balizar o artigo que escrevi [Misericórdia: uma antiga prática com futuro?] com a opinião dos outros autores e do público que assistirá para podermos debater algumas das minhas interrogações. Nesse artigo, abordei um pouco o contexto histórico da época do nascimento das Misericórdias, o contexto presente do terceiro sector terminando com aquilo que julgo serem os desafios futuros da prática da misericórdia: o olhar mais atento à pessoa num contexto de proximidade no quadro da concretização de valores humanistas.

Esta é a minha segunda participação, ao nível de escrita, com uma instituição de Penafiel. No seu devido tempo publicarei aqui o meu artigo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

o debate mais estreito da televisão pública?!


O slogan do programa promete o debate mais alargado da televisão pública. O cartaz diz que a escolha é sua. No entanto, para o suposto primeiro frente-a-frente dos cabeça das listas candidatas apenas os representantes dos partidos que já têm representaçao no Parlamento Europeu como se o mesmo fosse uma tapada onde só entra quem já lá está. Com a agravante que alguns desses partidos ainda nem tem a lista completa nem o seu programa finalizado.

Conheço pelo menos mais 2 candidaturas protagonizadas por 'novos agentes políticos' (Movimento Esperança Portugal e Movimento Mérito e Sociedade) e gostaria de saber mais sobre a sua visão do espaço público e que novas práticas e novas lógicas pretendem trazer para o campo político. Julgo que estes novos partidos deviam até ser merecedores de uma atenção redobrada por parte da comunicação social no sentido de darem a conhecer novos protagonistas. novas ideias... E só com o conhecimento de TODAS as candidaturas, o eleitor poderá, de seguida, escolher a sua opção, em consciência.

Mas talvez o Prós e Contras não seja o debate mais alargado da televisão. Pelo menos, a julgar pela estreiteza e limitação que o programa de hoje deverá apresentar.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Como cada coisa tem a sua cor
cada coração tem a esperança.
Havemos de somar projectos,
palmilhar destinos,
desfiar preocupações...
Mas a esperança é o segredo
que nos faz sair de nós,
criar e recriar, crer!
Por causa da esperança
o comum não se esvazia,
nem o inesperado nos trava;
o difícil é olhado com coragem
e o tempo feliz vivido com humildade.
A esperança é persistente,
não desarma.
Como o fogo debaixo da cinzas
empre resiste.
A esperança é actuante,
não cruza os braços.
Tem a paciência impaciente
das sementes
que, em vez de lamentar
o escuro da terra,
desatam a crescer.
A esperança é a palavra
que traz dentro a confiança.
Somos pessoas de esperança?"
(José Tolentino Mendonça)

domingo, 12 de abril de 2009



Amo-te muito

(assim mesmo)

com as letras todas

por extenso

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Uma varanda quase a florir


Este ano, as flores da minha varanda começam já a desabrochar e parecem estar quase, quase a florir. Há uma trepadeira que se manteve "parada" durante anos e agora parece vir em todo o vigor (em menos de um mês um ramo cresceu 20 cm!). Gosto desse prenúncio de cor sobretudo por perceber o gosto na paciência por um tempo que é mais lento e que por isso às vezes parece que custa a passar...mas que depois aparece em todo o esplendor.
Penso nisso quando oiço dizer que quando alguém morre ficamos todos mais próximos de Deus. Não sei se olhe para isso com um lado de sorte ou tristeza sobretudo pela dor causada com a separação. O Carlos é meu mestre nas visitas às prisões e sinto a sua ausência com muita tranquilidade. O Pedro é meu amigo, primo,companheiro de bricandeiras de infância e partiu subitamente no início desta semana. É muito estranho pensar na morte como comunhão. E neste mistério de que a Ressureição acontece na morte e não depois da morte é algo que às vezes custa a 'engolir' mesmo para quem pensa que anda a construir alguma fé em Cristo.
  Este tempo de morte devia-nos orientar para as coisas que são mesmo importantes, aquelas pelas quais vale a pena lutar e construir. Aquelas que se erguem com calma por precisarem de tempo de reflexão e de maturação. Como as plantas de uma varanda que já já vão começar a florir

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sinto-me orfão...

Desde sexta que me sinto orfão...Morreu um Mestre e julgo que quando tal acontece fico meio perdido porque há um vazio nas referências que parece que fica ali por preencher.

Nunca fui de grandes ídolos ou de me reverenciar perante personalidades embora, como é óbvio, admire e respeite imensa gente. Mas se calhar estou mais atento àquelas pessoas que foram moldando (que moldam!) a minha personalidade: os meus pais; as minhas professoras de História e Latim que sempre incetivaram o espírito crítico; o José António que me ensinou solfejo...

O Carlos Coelho já é do tempo do Porto, da minha entrada no voluntariado de visitas às prisões. E quando em Santa Cruz do Bispo se refere a ele como Carlos I isso quer dizer muito, não é? Ele que fez visitas creio que durante décadas, uma fez referiu-se a mim, logo nos meus primeiros tempos como "o Rui é profissional nisto". Digo-o com sentido orgulho porque quando um Mestre se refere-se assim a um aluno é porque o aluno está no caminho certo. E neste caso, o aluno era (sou) eu...

Disse o Pe. Vasco Pinto Magalhães que quando alguém morre todos nós beneficiamos porque ficamos mais próximos de Deus. E por isso há que pensar na morte como sinal de alegria. Confesso que, mesmo para mim que sou crente, este é um dos maiores mistérios... encarar com alegria algo que nos faz sofrer, no sentido em que temos de lidar com uma perda. Mas ao longo de todo o fim-de-semana, senti uma imensa tranquilidade nesta partida do Carlos, no exemplo de humildade que dava, no lava-pés que no caso dele se concretizava na atenção que dedicava aos reclusos.

Sinto-me orfão mas ao mesmo com o sentimento de que a responsabilidade é ainda maior.

Sinto-me

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Hoje também é o dia de Inês, a Pipoca

Sendo hoje o Dia Internacional do Livro Infantil é também um pouco o dia de "Inês, a Pipoca". Relembro a capa bem como algumas críticas que me fizeram aquando da sua publicação. Aliás, esses comentários permitiram-me, de alguma forma, encontrar-me com os seus autores (e isso não deixa de ser um dos objectivos deste blogue)

Teresa Sá Couto escreveu:

«Todos temos um quarto de brinquedos dentro do nosso coração. É lá que guardamos os nossos sonhos, as nossas alegrias e, por que não dizê-lo, as nossas tristezas e os nossos medos », diz-nos em introdução o texto que dá largas à imaginação para explicar o milagre da vida.

É a primeira história infantil de Rui Ivo, nascido em 1972 bem Moçambique, mas a viver em Portugal desde os 3 anos de idade, que diz que a realidade «é a verdadeira fonte da imaginação e da fantasia, o terreno onde os sonhos se concretizam.». E o terreno desta história é ainda adubado pelas ilustrações vibrantes de Marita Ferreira, também nascida em Moçambique e que há muito se dedica às artes plásticas e à escrita.

A personagem, uma menina chamada Inês, quer saber porque lhe chamam "a Pipoca". Inventiva, a explicação origina uma história que é uma surpresa. Tal como o grão de milho tem de estar num lugar quente para se transformar em pipoca, também as crianças são primeiro sementes que necessitam de um lugar quente para crescerem e finalmente poderem saltar e explodir em curiosidade com formas de «mil feitios».
Mas se é este o início da narrativa, o seu desenvolvimento é menos tradicional. Solta-se a imaginação e o grão dourado envolve-se em peripécias onde não falta uma bruxa má – a simbolizar os obstáculos à vida –, uma fada boa, estrelas e os pais que sonham e zelam pela semente mágica.

Pe. Luís Maria Providência, sj escreveu:
Da conjugaçao perfeita/óptima do teu texto e do trabalho da ilustradora, nasceu este livro que deu a conhecer a história da Pipoca. Do ponto de vista das imagens (metáforas) e de imaginação (fantasia) foste particularmente feliz. Encorajo-te a continuares, não te ficando pelo estritamente social ("realidade nua e crua" da sociologia e da pobreza), mas procurando doseá-lo (o social) com o mundo da fantasia (não disse da alienação), de modo a que às portas (alternativas) que passariam despercebidas lhes seja dada a devida atenção.

Preparar a Idade Maior

Escreveu Bruto da Costa:«Os idosos representam um grupo particularmente atingido pela exclusão social, entendida como um processo que conduz ao afastamento progressivo e cada vez mais grave de pessoas do “estilo de vida” corrente na sociedade». Esse afastamento conduz, no caso particular dos idosos, a situações de solidão e foi sobre este tema em concreto que o MEP organizou uma tertúlia na FNAC Gaiashopping.

Alguns dados estatísticos sobre a realidade em Portugal:
- num período de 50 anos, entre 1960 e 2004 a população idosa mais que duplicou em valores absolutos (1960: 708569 idosos; 2004: 1 790 539) sendo previsível que quase duplique até 2050( estimativa de 3 milhões de indivíduos);
- entre 1960 e 2004, verificou-se um aumento de 8% para 17% da proporção da pop. idosa face ao total da população (previsão de que esse valor venha a ser de 32% em 2050);
- aumento significativo da população mais idosa (mais de 80 anos): 1960: 107 617 pessoas; 2004: 401 008. Tal é reflexo de uma crescente longevidade sendo que este crescimento é o mais significativo do que qualquer outro grupo etário. Prevê-se que em 2050 10,2% dos portugueses terão mais de 80 anos (1960: 1,2%; 2004: 3,8%);
- o índice de dependência de idosos - relação entre a população idosa e a população potencialmente activa (15 aos 64 anos) – quase duplicou entre 1960 e 2004, passando de 13 para 25 idosos por cada 100 indivíduos em idade activa, prevendo-se que este valor mais que duplique em 2050.

Presentes na tertúlia estiveram Artur Santos e Tito Rodrigues respectivamente director e aluno da Universidade Sénior Contemporânea do Porto, Joana Guedes, docente do Instituto Superior de Serviço Social do Porto, e Alice Seixas, médica de família que exerce funções em Centros de Saúde do Porto.

Sobre o tema foram levantadas algumas questões como:
- necessidade de reconfigurar as lógicas actuais da sociedade excludentes da pessoa idosa: o afastamento do sistema produtivo é condição para a tornar descartável para a sociedade; a organização do tempo (emprego, transportes,…) não permite às famílias disporem de tempo quer para os seus idosos quer para as suas crianças;
- o que é mais preocupante: o idoso que vive só mas tem consciência disso (e é apoiado externamente) ou o idoso que vive com família que não tem disponibilidade e o vota a situação de abandono?;
- sendo os maiores consumidores de cuidados de saúde (medicamentos, consultas), o médico de família assume-se muitas vezes como um amigo e conselheiro? Há necessidade de uma ainda maior aposta numa visão holística (bio-psico-social) na forma como é encarada o tratamento do utente pela medicina?
- existência de universidades seniores como espaços e tempos onde são desenhados e desenvolvidos projectos de vida para que a pessoa continue a ocupar o seu espaço na sociedade. Deve o conhecimento aqui produzido ser certificado?


Por último foram deixados dois conselhos para um envelhecimento activo: ter hábitos de vida regrados e saudáveis (com destaque para uma alimentação correcta contrariando o fast food) e criar a necessidade de maior conhecimento e interesse pelo conhecimento, pela cultura, pelas artes de modo a que ele possa vir ser desenvolvido na idade maior.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

E porque não?

Sobre um excelente artigo do Público que Carlos Albuquerque colocou no blogue do MEP aqui fica a minha resposta

Nesta nova questão da moda [casamento entre pessoas do mesmo sexo, adopção por homossexuais] há que também ver as questões pelos lados menos óbvios do que aqueles que nos são servidos pela comunicação social ou que temos cá dentro por "culpa" da nossa socialização.

À luz da actual lei um(a) homossexual pode adoptar pois a questão de orientação sexual não é critério e não pode sequer ser questionada. Mas mais importante do que discutir se os homossexuais podem adoptar é discutir o direito que todas as crianças têm a uma vivência familiar condigna onde impere o amor e as condições dignas para um desenvolvimento estável.

Em Portugal cerca de 15 mil crianças vivem institucionalizadas (são mais que a população reclusa). A possibilidade de adopção por parte de casais homossexuais não virá resolver o problema mas esta não é uma questão de números! Se houver famílias de pessoas do mesmo sexo que tenham as condições necessárias (com o amor à cabeça) eu pergunto: E porque não?


E esta é também uma questão simbólica de permitir a uma minoria o acesso a um conjunto de direitos que a maioria já detém: uma questão de igualdade na construção de uma sociedade mais justa.